Israel aceita negociar
O governo israelita aceitou, no domingo, negociar sob condições o «roteiro para a paz» no Médio Oriente, já aceite pelos palestinianos a 30 de Abril.
«Dez anos mais tarde, podemos dizer que a história se repete»
A proposta internacional elaborada pelo «quarteto» (Estados Unidos, Rússia, ONU e União Europeia), foi aprovada à tangente pelo executivo de Telavive com 12 votos a favor, sete contra e quatro abstenções. O próprio primeiro-ministro, Ariel Sharon, só na sexta-feira deu o seu a aval à iniciativa, após ter recebido garantias dos EUA de que as objecções israelitas serão tidas em conta.
Os países árabes receberam com desconfiança a decisão de Israel.
«A posição de Israel esconde uma manobra que tem como objectivo negligenciar os direitos dos palestinianos», afirmou o presidente do Líbano, Emil Lahoud. Também o Irão considera ser «evidente que, com Ariel Sharon, nenhum plano de paz pode ser aplicado», como disse Hamid Reza Assefi, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por seu lado, no Cairo, o jornal Al-Ahram fez notar que esta é «uma ocasião preciosa que israelitas e palestinianos devem aproveitar», embora preveja que o novo plano terá o mesmo destino dos acordos de Oslo. «Dez anos mais tarde, podemos dizer que a história se repete, com a simples diferença de que Israel, que sabotou tudo o que se decidiu anteriormente, é hoje mais forte», escreve o jornal.
A desconfiança árabe justifica-se. Na verdade, Sharon e o seu gabinete só acederam sentar-se à mesa das negociações porque a rejeição do «roteiro da paz» poderia significar, como alertou no domingo o primeiro-ministro israelita, o início de uma crise com o governo norte-americano. De registar que a luz verde dada às negociações descarta no entanto qualquer possibilidade de reconhecimento do direito ao regresso dos quatro milhões de palestinianos forçados ao exílio após a guerra de 1948/49.
Os EUA classificaram a aprovação como «um avanço importante».
Caminho difícil
A aceitação formal do plano de paz compromete Israel com a aceitação de um Estado palestiniano, previsto no plano para 2005, mas o caminho para atingir esse objectivo está cheio de escolhos.
Em entrevista ao jornal Yedioth Ahronoth, na sexta-feira, Ariel Sharon reconheceu que «chegou a hora de dividir esse pedaço de terra entre nós e os palestinianos», mas estes consideram que «o mais importante agora é Israel implementar inteiramente» o plano de paz, como disse o ministro palestiniano Iasser Abed Rabbo, sublinhando que «Israel deve parar a punição colectiva e a expansão dos colonatos». Por seu lado, Israel exige o fim dos atentados como condição prévia para as negociações, e rejeita qualquer negociação com Yasser Arafat.
Para o dirigente palestiniano, as condições impostas por Telavive ameaçam a aplicação do plano, como afirmou após um encontro em Ramallah, no domingo, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Dominique de Villepin, que lhe entregou uma carta do presidente Jacques Chirac manifestando o seu apoio ao processo de paz.
«O povo palestiniano é o único a decidir seu destino político», lembrou Arafat.
Por seu turno, o ministro francês, que se encontrou igualmente com o seu homólogo israelita, Silvan Shalom e com o primeiro-ministro palestiniano, Mahmud Abbas (Abu Mazen), considera que a decisão do governo de Sharon «inaugura uma nova página nas relações de Israel com os palestinianos». Posição idêntica assumiu Ana Palacio, ministra espanhola dos Negócios Estrangeiros, que esta semana se reuniu com Arafat e Abu Mazen para manifestar o apoio da Espanha ao processo de paz.
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Israelitas a favor
do plano de paz
Uma sondagem divulgada segunda-feira pelo jornal Yediot Aharonot revela que 56 por cento dos israelitas apoiam o «roteiro para a paz», enquanto 34 por cento se manifestam contra e 10 por cento dizem não ter opinião formada sobre o assunto.
Quanto aos resultados da aplicação do plano, a diferença é menos significativa: 51 por cento acreditam que o «roteiro» vai levar a um acordo de paz definitivo, contra 43 por cento que não acreditam nessa possibilidade.
A sondagem revela ainda que 62 por cento dos entrevistados consideram que a aprovação do plano pelo governo se deve à pressão dos EUA sobre Ariel Sharon.
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Principais pontos do Plano
Fase 1: Fim dos atentados palestinianos; reformas políticas na Autoridade Palestina; retirada de Israel dos territórios ocupados e fim da expansão dos colonatos.
Fase 2: Criação de um Estado palestiniano independente; realização de uma conferência internacional para monitorizar o cumprimento do acordo.
Fase 3: Segunda conferência internacional; acordo permanente sobre o estatuto de Jerusalém, situação dos refugiados e dos colonatos; acordo sobre fronteiras definitivas; acordo de paz entre estados árabes e Israel.
Para implementar o «roteiro», o presidente norte-americano, George W. Bush, deve reunir-se com Ariel Sharon e Abu Mazen após a cimeira do G-8 agendada para Evian, em França, de 1 a 3 de Junho.
Os países árabes receberam com desconfiança a decisão de Israel.
«A posição de Israel esconde uma manobra que tem como objectivo negligenciar os direitos dos palestinianos», afirmou o presidente do Líbano, Emil Lahoud. Também o Irão considera ser «evidente que, com Ariel Sharon, nenhum plano de paz pode ser aplicado», como disse Hamid Reza Assefi, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Por seu lado, no Cairo, o jornal Al-Ahram fez notar que esta é «uma ocasião preciosa que israelitas e palestinianos devem aproveitar», embora preveja que o novo plano terá o mesmo destino dos acordos de Oslo. «Dez anos mais tarde, podemos dizer que a história se repete, com a simples diferença de que Israel, que sabotou tudo o que se decidiu anteriormente, é hoje mais forte», escreve o jornal.
A desconfiança árabe justifica-se. Na verdade, Sharon e o seu gabinete só acederam sentar-se à mesa das negociações porque a rejeição do «roteiro da paz» poderia significar, como alertou no domingo o primeiro-ministro israelita, o início de uma crise com o governo norte-americano. De registar que a luz verde dada às negociações descarta no entanto qualquer possibilidade de reconhecimento do direito ao regresso dos quatro milhões de palestinianos forçados ao exílio após a guerra de 1948/49.
Os EUA classificaram a aprovação como «um avanço importante».
Caminho difícil
A aceitação formal do plano de paz compromete Israel com a aceitação de um Estado palestiniano, previsto no plano para 2005, mas o caminho para atingir esse objectivo está cheio de escolhos.
Em entrevista ao jornal Yedioth Ahronoth, na sexta-feira, Ariel Sharon reconheceu que «chegou a hora de dividir esse pedaço de terra entre nós e os palestinianos», mas estes consideram que «o mais importante agora é Israel implementar inteiramente» o plano de paz, como disse o ministro palestiniano Iasser Abed Rabbo, sublinhando que «Israel deve parar a punição colectiva e a expansão dos colonatos». Por seu lado, Israel exige o fim dos atentados como condição prévia para as negociações, e rejeita qualquer negociação com Yasser Arafat.
Para o dirigente palestiniano, as condições impostas por Telavive ameaçam a aplicação do plano, como afirmou após um encontro em Ramallah, no domingo, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da França, Dominique de Villepin, que lhe entregou uma carta do presidente Jacques Chirac manifestando o seu apoio ao processo de paz.
«O povo palestiniano é o único a decidir seu destino político», lembrou Arafat.
Por seu turno, o ministro francês, que se encontrou igualmente com o seu homólogo israelita, Silvan Shalom e com o primeiro-ministro palestiniano, Mahmud Abbas (Abu Mazen), considera que a decisão do governo de Sharon «inaugura uma nova página nas relações de Israel com os palestinianos». Posição idêntica assumiu Ana Palacio, ministra espanhola dos Negócios Estrangeiros, que esta semana se reuniu com Arafat e Abu Mazen para manifestar o apoio da Espanha ao processo de paz.
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Israelitas a favor
do plano de paz
Uma sondagem divulgada segunda-feira pelo jornal Yediot Aharonot revela que 56 por cento dos israelitas apoiam o «roteiro para a paz», enquanto 34 por cento se manifestam contra e 10 por cento dizem não ter opinião formada sobre o assunto.
Quanto aos resultados da aplicação do plano, a diferença é menos significativa: 51 por cento acreditam que o «roteiro» vai levar a um acordo de paz definitivo, contra 43 por cento que não acreditam nessa possibilidade.
A sondagem revela ainda que 62 por cento dos entrevistados consideram que a aprovação do plano pelo governo se deve à pressão dos EUA sobre Ariel Sharon.
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Principais pontos do Plano
Fase 1: Fim dos atentados palestinianos; reformas políticas na Autoridade Palestina; retirada de Israel dos territórios ocupados e fim da expansão dos colonatos.
Fase 2: Criação de um Estado palestiniano independente; realização de uma conferência internacional para monitorizar o cumprimento do acordo.
Fase 3: Segunda conferência internacional; acordo permanente sobre o estatuto de Jerusalém, situação dos refugiados e dos colonatos; acordo sobre fronteiras definitivas; acordo de paz entre estados árabes e Israel.
Para implementar o «roteiro», o presidente norte-americano, George W. Bush, deve reunir-se com Ariel Sharon e Abu Mazen após a cimeira do G-8 agendada para Evian, em França, de 1 a 3 de Junho.