Juntos contra a guerra
Em Lisboa, à semelhança do que aconteceu em várias capitais do mundo, muitos milhares de pessoas saíram sábado à rua para protestar contra a guerra anglo-americana no Iraque. «Bush, fascista, és um terrorista» e «Durão Bush e Blair, esta guerra ninguém quer!» foram algumas das palavras de ordem entoadas em todo o País.
Ainda não eram três da tarde, já o Marquês de Pombal, em Lisboa, estava repleto de gente que se iam preparando para aquela que foi umas das maiores manifestações de sempre pela paz, contra a guerra no Iraque.
Num cenário onde predominavam bandeiras vermelhas e brancas, faixas negras, e muita música, que animava os milhares de manifestantes, políticos de esquerda juntaram-se a sindicalistas, activistas sociais, organizações de jovens e cidadãos, que se quiseram manifestar a favor da paz. Carlos Carvalhas, secretário-geral do PCP, Isabel Castro e Heloisa Apolónia de «Os Verdes», Francisco Louçã, do BE e Mário Soares, ex-presidente da República, foram alguns dos políticos que participaram no protesto.
A grande novidade foi a participação oficial do Partido Socialista, isto porque, na primeira manifestação pela paz, que se realizou a 15 de Fevereiro, o secretário-geral do PS, Ferro Rodrigues, preferiu manter-se neutro e não compareceu no protesto público.
«Bush, fascista, és um terrorista!» e «Durão, Bush e Blair, esta guerra ninguém quer!», foram algumas das palavras de ordem entoadas em coro pelos manifestantes, enquanto se deslocavam, Avenida da Liberdade a baixo, em direcção ao Rossio. Uma grande bandeira do Iraque, suportada pelas centenas de jovens da JCP, pôde também ser vista, entre a multidão.
No Rossio, onde terminou a manifestação, a pianista Maria João Pires, já depois do grosso dos manifestantes terem chegado à frente do palco, leu um manifesto contra a intervenção militar no Iraque. «José Manuel Durão Barroso desprezou as opiniões e os sentimentos do povo em nome do qual governa, quando associou o nome de Portugal a esta guerra, ao promover, na Base das Lajes, a cimeira da guerra, do ultimato à ONU», alegou a pianista.
Maria João Pires, que assumiu o papel de porta-voz da organização promotora da iniciativa, disse, que esta «é uma guerra contra a carta das Nações Unidas, uma guerra ilegítima e contra a ideia de um mundo regulado por normas de direito internacional por todos partilháveis». A pianista considerou ainda que a intervenção no Iraque «é uma declaração de guerra à resolução dos conflitos por via política e pacífica».
«Guerra não é alternativa»
O dia 22 de Março ficou marcado pelos protestos que ocorreram em todo o País contra a guerra no Iraque. Porto, Coimbra, Évora, Faro e Funchal, foram algumas, das muitas, capitais de distrito onde se realizaram manifestações a favor da paz.
No Funchal, centenas de pessoas concentraram-se no largo do Município, uma das praças mais centrais da ilha. Os manifestantes que erguiam bandeiras brancas e vermelhas gritaram palavras de ordem como «Não em nosso nome», «Liberdade sem morte, guerra não é alternativa».
A cidade do Porto também ficou marcada pelas manifestações de protesto contra a guerra. Mais de 10 mil pessoas reuniram-se na Praça dos Poveiros, iniciando no final da tarde um desfile pelas ruas da cidade.
À semelhança do que aconteceu nas outras cidades, os manifestantes gritaram palavras de ordem como «Paz sim, guerra não». O vereador da CDU, Jorge Gouveia Monteiro, sindicalistas, professores, médicos e universitários integraram-se no protesto, que contou também com a presença de um grupo de cidadãos ingleses pertencentes ao movimento pacifista «Peace Pledge Union».
Cerca de mil pessoas concentraram-se, igualmente, na Praça 8 de Maio, em Coimbra, num protesto contra a guerra e em defesa da paz. A manifestação compreendeu um desfile que partiu da Praça da República e percorreu a Avenida Sá da Bandeira, até à concentração na Praça 8 de Maio, onde se realizou uma Tribuna Pública com várias intervenções.
Também no Sul do País o protesto contra a guerra levou as pessoas à rua. As manifestações juntaram 1500 pessoas em Faro e em Évora, que aprovaram uma moção a exigir e cessar imediato da intervenção e condenar a atitude do Governo de apoio à ofensiva no Iraque.
Em Faro, a manifestação foi promovida pelo «Movimento Algarve pela Paz», constituído há cerca de um mês e que engloba mais de uma dezena de organizações ligadas ao movimento cívico, sindical, político, cultural, ambientalista, recreativo e juvenil. Na cidade alentejana, a Praça do Giraldo serviu de palco à concentração de cerca de cinco centenas de manifestantes. O protesto foi promovido pelo «Movimento Évora pela Paz» e contou com a participação, para além do PCP, PS e BE, de Abílio Fernandes, anterior autarca da cidade.
Ocorreram ainda manifestações em Aveiro, Beja, Castelo Branco, Covilhã, Leiria, Alcobaça, Marinha Grande, Sines, Vila Real e Viseu.
Em Portugal e no mundo soaram bem alto as vozes de protesto contra a guerra.