A festa de aniversário

Carlos Gonçalves

O aniversário das legislativas de 17 de Março, que levaram a maioria de direita ao governo, foi uma festa.

A comemoração estendeu-se pelo fim de semana, com os ministros em festa ambulante a discursar hossanas aos grandes feitos do seu primeiro ano de «sacrifícios pelo país», como gostam de dizer os muitos que vieram das administrações de bancos e interesses, com sede em Madrid ou até ver em Lisboa, e que, pobrezinhos, estão a «perder dinheiro» no governo – no nosso interesse e do país, claro.

Estão de parabéns pelo aniversário, tanto mais que como Governo, nasceram dum erro do «destino», porque o Engenheiro Guterres e o seu PS decidiram que tinham cumprido a «missão» e, com «total desprendimento do poder», aproveitaram a derrota eleitoral autárquica, para entregar a governação à direita «legítima» – muito convenientemente dizem os interesses (ou quem acredita em «bruxas»).

Estão de parabéns pelo aniversário, porque o deslumbramento, o provento e o cimento do poder, até ver, adesivaram a maioria de direita e mantiveram as aparências, apesar do «dilapidador» PPortas da Moderna e das intrigas de assalto ao poder, apesar da Cardona e da «mão baixa» na Justiça, apesar do fariseu Bagão e do assalto ao cofre da Segurança Social e aos bolsos e direitos dos trabalhadores, apesar do Luis Filipe dos Mellos e dos hospitais-Sociedades Anónimas, apesar do Pinto dos nitrofuranos, apesar do Tavares do Santander e dos «centros de decisão» em Castela, apesar de..., etc.

Estão de parabéns pelo aniversário, pelos amigos das suas políticas, no acordo da CIP e da UGT ao seu «pacote laboral» de «modernidade», nos aconchegos de «governabilidade» do PS no Pacto de Estabilidade e na inaceitável «Lei dos partidos», na «compreensão» dos grandes patrões no apoio à guerra imperialista, ou até na presidencial negação de um «ridículo» conflito institucional nesta matéria.

Estão de parabéns pelo aniversário e pelo apogeu da sua festa nas Lages, quando, de simples marionetas de Bush e do império, conseguiram guindar-se a mestres de cerimónias e receber até o agradecimento público de «George» pelo «excelente trabalho que fizeram aqui em tão pouco tempo» (sic) de decoração subentende-se – um êxtase à direita.

E até nós estamos de parabéns por este aniversário, porque, ironia do «destino», no preciso dia 17 da grande festa da direita, ao crescendo da luta popular contra as suas políticas juntou-se uma censura parlamentar alargada, abrindo caminho - esperamos e fazemos por isso – para que se acabe a festa do Governo da direita.



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