O mordomo
Toda a gente sabe, por repetidamente ouvir dizer, que pesado é o fardo de governar. O facto de os candidatos serem mais do que as mães em nada contradiz a asserção, antes atesta o elevado espírito de sacrifício dos aspirantes ao cargo. É claro que neste, como noutros campos, há pequenas compensações que ajudam a aliviar a carga. E não se pense que estou a falar de benesses materiais - longe de mim tal ideia! -, que bem vistas as coisas podem sempre aviltar as mais nobres funções. A que me refiro é àquelas pequenas coisas que tocam os corações e marcam de forma indelével o mais empedernido dos mortais.
Veja-se o caso de Durão Barroso, por exemplo. Quem o ouviu contar, não há muito tempo, que o seu homólogo Blair ao recebê-lo no número 10 de Downstreet o tratou por José e não por Xosé, prova provada, como Barroso fez questão de sublinhar, de que não o confundia com o congénere espanhol, quem tal ouviu, dizia, percebeu sem margem para dúvidas que a comovedora experiência de tão distinto acolhimento ficará para sempre guardada nas mais caras memórias do governante português.
É certo e sabido que casos destes não ocorrem todos os dias, mas até parece que o actual executivo tem uma fada madrinha a ampará-lo. Não bastava a intervenção da Santa no caso do Prestige, revelada por Paulo Portas, afastando de Portugal o petróleo derramado e lançando-o a infiéis terras de Espanha e França, de que pelos vistos a Santa não gosta, eis que agora de novo o governo é abençoado com a elevação de Barroso a mordomo da troika de guerra.
O sorriso embevecido de Durão e a voz embargada com que passou a palavra ao presidente dos EUA na conferência de imprensa das Lajes - Geooorge.... - quase dispensam comentários, mas não resistimos a sublinhar o orgulho do primeiro-ministro português pela oportunidade histórica de se sentar ao lado de tão ilustres figuras e de com elas partilhar o interesse da comunicação social, primeiro, e uns pastelinhos de bacalhau, depois, que é como quem diz um jantar, uma refeição ligeira, que o tempo não deu para mais. Para além da ementa oficial, adivinha-se que Durão ofereceu Porto, porventura uns bolos, quem sabe se mesmo uns bombons, antecipando a eventualidade de algum dos convidados lhe dizer «José, apetece-me tomar algo...».
É verdade que a escolha da Terceira - sem desprimor para a Ilha - deu aos visitantes um ar de náufragos dados à costa em terra de ninguém; é verdade que Durão Barroso caiu em contradições, dizendo uma coisa na véspera da cimeira e o contrário no dia do evento; é verdade que a troika chegou e disse, tirou o chapéu e foi-se; mas isso são detalhes sem importância. O que importa é que o encontro se realizou em Portugal e Barroso esteve lá desempenhando na perfeição o seu papel de Lili Caneças da política. Fotógrafos e operadores de câmara nacionais e estrangeiros registaram o acontecimento para a eternidade e para o álbum de família. Na óptica de Durão, cumpriu-se Portugal.
A propósito, na cimeira das Lajes fez-se uma declaração de guerra. À ONU e ao Iraque.