Provas contundentes

Anabela Fino

Os inspectores da ONU que vasculham o país de Saddam Hussein à procura de provas da existência de armas de destruição maciça não encontraram nada até ao momento, a não ser sucata.

Colin Powell, que ontem, quarta-feira, devia ter apresentado ao Conselho de Segurança «as provas» que a administração norte-americana proclama há meses possuir, não levava afinal grande coisa na cartola. Segundo o director do departamento de estratégia política do Departamento de Estado dos EUA, Richard Haass, em declarações ao jornal egípcio Al-Ahram, Powell foi só «compartilhar com a comunidade internacional mais informações que mostram que Saddam Hussein não quer respeitar as resoluções internacionais». As «provas», diz Haass, eram «pontos sobre as actividades dos iraquianos, dos quais qualquer pessoa poderá deduzir que essa gente está a esconder coisas».

Quanto às alegadas ligações de Bagdad ao terrorismo, e designadamente à Al Qaeda, o desmentido chegou das mais insuspeitas fontes: a CIA e o FBI. Segundo o «New York Times», responsáveis daqueles organismos que estudam a questão há mais de um ano concluíram que não existe nenhuma relação.

Entretanto, os EUA e a Grã-Bretanha já admitiram usar armas nucleares contra o Iraque, como fizeram saber com toda a desfaçatez responsáveis dos dois países.

Por outro lado, os planos do Pentágono, vindos a público na segunda-feira através do britânico «The Observer» e do norte-americano «New York Times», prevêem lançar sobre os iraquianos 3000 bombas e mísseis nas primeiras 48 horas da ofensiva. Ao ataque aéreo - dez vezes mais forte do que o de 1991 - seguir-se-á o ataque terrestre desencadeado a partir do Koweit, bem como um assalto aéreo para proteger os poços de petróleo.

No ínterim, oito governantes europeus - Espanha, Grã-Bretanha, Itália, Hungria, Dinamarca, Polónia, República Checa e Portugal - assinaram uma carta de apoio à política belicista de Bush e justificaram-no dizendo que «o regime iraquiano e as suas armas de destruição maciça representam uma ameaça clara à segurança mundial». De assinalar que estas oito pacíficas almas europeias não se pronunciaram quanto à ameaça anglo-saxónica do uso de armas nucleares, as mais poderosas armas de destruição maciça que existem.

Temos pois provas contundentes de que o ataque anunciado contra o Iraque se destina a salvar os iraquianos, a democracia e a paz mundial. Tudo bem regado com petróleo.



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