Ou não?

Vítor Dias

De entre tantos e tantos salpicos da espuma dos dias, retivemos três factos recentes a suscitar-nos outros tantos breves comentários.

O primeiro refere-se ao novo sobressalto de compreensíveis indignações e protestos com os - mais ou menos bombásticos mas seguramente abjectos - novos programas da SIC e da TVI. Trata-se porém de um combóio que, por hoje, não desejamos apanhar, até porque, infelizmente, daqui por três ou seis meses sempre poderemos apanhá-lo em qualquer outro apeadeiro, então mais que provavelmente sobre outros programas, quem sabe se ainda piores e mais indignos.

Por hoje, só queremos mesmo é lembrar que o Ministro Morais Sarmento que também veio dar uns sinais de preocupação com esta infame escalada na SIC e na TVI é o mesmo Ministro Morais Sarmento que foi abençoado pela presença dos patrões daquelas estações quando anunciou as suas «Novas opções para o audiovisual» que incluem novas restrições à publicidade na RTP, numa descarada amputação de receitas do serviço público e sua inerente transferência para a TVI e a SIC.

O segundo facto tem que ver com a declaração feita na TVI por Marcelo Rebelo de Sousa de que «de cada vez que há uma revisão da Constituição ela é para a direita», « ou seja, de cada vez que se altera a Constituição é para o PSD e o CDS ganharem e para o PS perder».

Vejam-se as pois voltas que o mundo dá. Agora já temos MRS a repetir teses e apreciações que o PCP sempre enunciou sobre o sentido geral das revisões da Constituição e que muito indignavam o PS. Por acaso, o mesmo MRS que escreveu, a propósito da revisão de 97, que negociou com Guterres, que «o PS está de parabéns».

O terceiro facto consiste na declaração de oposição à «criminalização» legal das mulheres que recorrem ao aborto feita por Margarida Neto, a nova «Coordenadora da Família» nomeada por Bagão Félix.

Margarida Neto acompanhou assim a declaração de que «o aborto não deve ser punido com prisão» que já o próprio Bagão Félix havia feito em entrevista em 7.5.2002 mas que, infelizmente, não se lembrou de fazer durante a campanha do malfafado referendo feito em 1998.

E se as palavras ainda querem dizer alguma coisa, estas só podem então querer dizer que tanto Bagão Félix como Margarida Neto são contra a manutenção no Código Penal da tipificação do recurso ao aborto como crime punível até três anos de prisão.

O prosseguimento da difícil mas justa luta pela despenalização do aborto, que já não precisava de mais razões, ganha a partir de agora o mérito acessório, mas não dispiciendo, de responder à profunda revolta e à angustiada discordância que certamente povoarão as almas e atormentarão o sono de Bagão Félix e de Margarida Neto. Ou não?



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