Escritores e professores criam movimento

A disciplina de Literatura Portuguesa ocupa um «lugar subalterno» na revisão curricular no ensino secundário. Esta é a opinião de cerca de meia centena de escritores e professores da disciplina que assinaram uma carta dirigida ao ministro da Educação, em que manifestam esta preocupação.

Após um encontro realizado em Lisboa na sexta-feira, estas personalidades manifestam-se contra o estatuto opcional atribuído à disciplina de Literatura Portuguesa na revisão, susceptível de ser escolhida apenas pelos alunos destinados aos cursos de línguas e literaturas. Na sua opinião, abre-se caminho a dois erros graves.

«Por um lado, permite que um aluno venha a enveredar por uma formação universitária, no domínio das línguas e literaturas, sem qualquer formação prévia em Literatura Portuguesa. Por outro lado, postula um ensino da Língua Portuguesa como actividade que abdica do relevante contributo da literatura ou, pelo menos, tende a reduzir esse contributo a uma estatuto de menoridade», lê-se na carta.

Os autores defendem que este texto «não deve ser entendido como manifestação de interesse corporativo», mas de «um legítimo propósito de intervir construtivamente no debate em curso, propósito que corresponde também a uma inequívoca afirmação de cidadania e de empenhamento cultural».

 

«Ensino mutilador»

 

«Na nossa condição de escritores e de professores de literatura portuguesa, entendemos que um ensino da língua que não valorize o seu potencial criativo é um ensino mutilador porque desqualifica um fundamental domínio de enriquecimento do idioma», sustentam os professores e os escritores.

«Um ensino que iniba ou coloque em posição meramente opcional o acesso dos alunos à leitura e à fruição dos textos literários é um ensino que põe em causa o princípio da igualdade de oportunidades. Um ensino que limite a muito poucos o estudo da literatura e particularmente da literatura portuguesa é um ensino que contribui para a rasura da nossa memória, literariamente modelada ao longo dos séculos», afirmam.

A carta foi assinada por diversos escritores e professores como Agustina Bessa Luís, Carlos Reis, Eduardo Prado Coelho, Helena Carvalhão Buescu, Isabel Pires de Lima, João Barrento, José Manuel Mendes, Lídia Jorge, Luís Miguel Cintra, Luísa Costa Gomes, Manuel Gusmão, Maria Lúcia Lepecki, Maria Velho da Costa, Mário de Carvalho, Teresa Rita Lopes, Yvette Centeno e Vasco Graça Moura.



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