Venezuela: silêncio cúmplice

Ângelo Alves

O Go­verno por­tu­guês nada disse sobre a in­ten­tona ter­ro­rista

Na pas­sada se­mana a Ve­ne­zuela foi alvo de um novo ataque vi­sando uma ten­ta­tiva de in­cursão mi­litar de forças pa­ra­mi­li­tares e mer­ce­ná­rios – a Ope­ração Ge­deón. Os ob­jec­tivos desta ope­ração ter­ro­rista eram: con­trolar ter­ri­tório, tomar edi­fí­cios e infra-es­tru­turas (como o ae­ro­porto de Ca­racas), do­minar ele­mentos cen­trais da so­be­rania e in­te­gri­dade ter­ri­to­rial do país (como a gestão do es­paço aéreo ve­ne­zu­e­lano), se­ques­trar ou as­sas­sinar go­ver­nantes eleitos (desde logo o pre­si­dente Ma­duro), depor pela força o go­verno e ins­talar no poder os gol­pistas li­de­rados por Guaidó.

Não é certo até ao mo­mento quantos pa­ra­mi­li­tares, mer­ce­ná­rios e agentes es­tran­geiros es­ti­veram en­vol­vidos nesta ope­ração. Vá­rios deles foram mortos quando as forças mi­li­tares e de se­gu­rança ve­ne­zu­e­lanas in­ter­cep­taram e der­ro­taram a ten­ta­tiva de in­cursão ma­rí­tima perto de Ca­racas – cul­mi­nando com su­cesso o pro­cesso de in­ves­ti­gação e des­mon­tagem desta ope­ração ter­ro­rista e gol­pista. En­tre­tanto, foram já cap­tu­rados 48 mer­ce­ná­rios e pa­ra­mi­li­tares en­vol­vidos. Entre os de­tidos en­con­tram-se dois mi­li­tares ve­te­ranos dos EUA (Airan Berry e Luke Denman), que es­tavam «ao ser­viço» da em­presa pri­vada de mer­ce­ná­rios, Sil­ver­corp, e An­tonio Se­quea, o ex-mi­litar de­sertor ve­ne­zu­e­lano que par­ti­cipou na ten­ta­tiva fa­lhada de golpe de Es­tado em Abril de 2019 li­de­rada por Juan Guaidó e Le­o­poldo López, que re­sul­taria na fuga deste úl­timo da prisão.

As con­fis­sões tor­nadas pú­blicas, no­me­a­da­mente dos ve­te­ranos norte-ame­ri­canos e de An­tonio Se­quea, bem como ou­tros ele­mentos de prova como o ar­ma­mento e ma­te­rial de guerra apre­en­dido e um con­trato es­crito da Sil­ver­corp no valor de 212 mi­lhões de dó­lares as­si­nado por Juan Guaidó, con­firmam a versão de es­tarmos pe­rante uma ope­ração que en­volveu o gol­pista Guaidó, que as­sinou o con­trato com a Sil­ver­corp; o go­verno co­lom­biano de Ivan Duque, que aco­lheu e pro­tegeu os mer­ce­ná­rios e gol­pistas no seu ter­ri­tório; ba­rões do nar­co­trá­fico co­lom­biano que for­ne­ceram apoio lo­gís­tico na Colômbia à pre­pa­ração da ope­ração; e a ad­mi­nis­tração norte-ame­ri­cana, que re­cebeu em Março Guaidó e Ivan Duque (mo­mento em que se terá dado luz verde à ope­ração) e que tem li­ga­ções di­rectas com a Sil­ver­corp, com o seu pro­pri­e­tário Jordan Gou­dreau (mi­litar ve­te­rano dos EUA) e com os dois mer­ce­ná­rios de­tidos.

Este é mais um exemplo claro da na­tu­reza cri­mi­nosa do fan­toche Guaidó e dos seus man­dantes, dos ins­tru­mentos que uti­lizam e das suas li­ga­ções ao crime or­ga­ni­zado, no­me­a­da­mente o nar­co­trá­fico pro­te­gido pela DEA norte-ame­ri­cana. Um exemplo tão mais exe­crável quanto este ataque terá sido pre­pa­rado e con­cre­ti­zado em pleno surto epi­dé­mico da COVID-19, que nos EUA e nou­tros países como a Colômbia atinge uma di­mensão de saúde e so­cial as­sus­ta­dora. O si­lêncio do Go­verno por­tu­guês (tão lesto nou­tras oca­siões a pro­nun­ciar-se sobre a si­tu­ação na Ve­ne­zuela), sobre este acto de agressão, ilegal e cri­mi­noso, é re­ve­lador da sua ver­go­nhosa e cúm­plice sub­ser­vi­ência aos planos de agressão contra o povo ve­ne­zu­e­lano, contra a de­mo­cracia e a so­be­rania, as­so­ci­ando-se dessa forma aos mais obs­curos e cri­mi­nosos planos do im­pe­ri­a­lismo e do crime or­ga­ni­zado na Amé­rica La­tina.




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