Desbaratar
Há por aí quem diga que «os portugueses vivem acima das possibilidades», ou que sobre o OE para 2018: «trata-se de não desbaratar aquilo que deu tanto trabalho aos portugueses». A tese, brilhantemente vendida nesta síntese, é a de «andámos» os últimos anos a amealhar e agora há uns privilegiados (trabalhadores) que querem gastar isso em seu proveito exclusivo.
A síntese é brilhante e eficaz, mas é falsa, e expõe o papel de Marcelo como manipulador ao serviço do grande capital. Os manipuladores da opinião pública fazem vingar as suas teses por força da sua sistemática repetição, por isso nunca é demais repetir os desmentidos, ainda que não tenhamos a capacidade de amplificar que está reservada à classe dominante.
Desde logo é falsa a tese de que «todos os portugueses» tenham andado a fazer a mesma coisa entre 2009 e 2015. Há uns quantos portugueses, pequenos em número, grandes na percentagem do PIB de que se apropriam, que passaram esses anos a ficar mais ricos. E há os outros, onde se inclui a generalidades dos reformados, dos trabalhadores e dos pequenos e médios empresários, que passaram esses seis anos a ver os seus rendimentos diminuir. E o que a uns foi oferecido a outros foi roubado, sem esquecer que os segundos ainda tiveram de pagar do seu bolso o dízimo à agiotagem internacional.
Depois é falsa a tese de que este Orçamento «dá» aos trabalhadores. Ele limita-se quase sempre a repor rendimentos roubados, e em muitos casos só parcialmente. Não que isso não seja importante e de valorizar, que o é e muito. Mas não é mais do que isso: remunerações que estavam a ser roubadas e deixaram de o ser; direitos que estavam suspensos e deixaram de o estar; impostos que tinham sido aumentados e agora foram reduzidos.
Se este Orçamento desbarata recursos é na agiotagem, nas centenas de milhões que manda pagar ao Santander por swaps, nos milhares de milhões em juros de uma dívida tantas vezes ilegítima.