Foi uma vitória, sim!
O pagamento do subsídio de Natal em duodécimos introduzido durante o governo PSD/CDS visou atingir dois objectivos. Primeiro, no imediato, era disfarçar os cortes nos salários e reformas que estavam a ser impostos, tornando menos perceptível a brutalidade dessas decisões. Segundo, mais estratégico, abrir caminho à destruição dessa importante conquista de Abril, concretizando uma das muitas medidas de agravamento da exploração contidas no pacto de agressão que PSD, CDS e PS assumiram com a troika estrangeira.
Com a aprovação do OE para 2018, essa malfeitoria não só desaparece por completo no respeitante aos trabalhadores da administração pública e aos reformados (que já este ano beneficiaram da reposição de metade desse valor), como se elimina também a possibilidade de as empresas do sector privado recorrerem a um expediente que lhes permitia disfarçar os baixos salários.
A reacção que se seguiu, quer por parte do grande patronato, quer por parte do PSD e CDS, com um profundo eco na comunicação social dominante e na maioria dos seus comentadores, visou transformar a reposição de um direito numa espécie de corte salarial. Se o Correio da Manhã trazia na sua manchete do dia 24 a frase garrafal «Salário no privado desce em Janeiro», já a SIC e a TVI faziam nos noticiários dessa noite – com uns gráficos à mistura – as contas de um corte salarial que nunca existiu. As declarações sucederam-se, com deputados do PSD e CDS a rasgarem as vestes pelo fim da «liberdade de escolha» dos trabalhadores do sector privado, como se essa «escolha» se fizesse na base de uma relação entre iguais (patrão/empregado).
Como em tantas outras matérias, também agora assistimos a uma descarada manipulação da realidade e que deixará muita gente inquieta e confusa. Mas a verdade é que se tratou de uma vitória dos trabalhadores e da sua luta, uma vitória só possível de concretizar porque o Governo do PS é minoritário e porque o PCP não desperdiçou a oportunidade de concretizar este novo avanço.