A revolução defende-se

Luís Carapinha

Desengane-se quem julgue que a revolução está prestes a capitular

Passaram 90 dias da morte do Comandante Hugo Chávez. Para ninguém é segredo, dentro e fora da Venezuela, que o desaparecimento prematuro do líder da revolução bolivariana representa uma perda irreparável e que, nesta situação, o processo emancipador se depara com o quadro mais complexo jamais enfrentado. Contudo, desengane-se quem julgue que a revolução está derrotada ou prestes a capitular. A aliança da grande burguesia venezuelana, comandada e assessorada desde Washington, apostou forte na agenda desestabilizadora, mas voltou a sair derrotada no embate frontal das presidenciais de 14 de Abril e na operação subversiva que logo fez desencadear com a violência nas ruas e a campanha de desconhecimento e impugnação das eleições. Durante largos meses as forças da reacção prepararam-se para este cenário eleitoral e pós-eleitoral. Desavergonhadamente, os mesmos inimigos declarados da Constituição bolivariana e protagonistas do golpe fracassado de 2002 apresentaram-se às primeiras eleições sem Chávez sob o chapéu de um comando de campanha designado «Símon Bolívar». O candidato Capriles transfigurou-se em simpatizante de todas as causas populares, erigindo-se mesmo em simpatizante do «genuíno» chavismo. A par da cerrada campanha político-mediática planearam e levaram a cabo a guerra económica. Uma guerra de desgaste da base eleitoral e social da revolução, promovendo sabotagens da rede eléctrica, a falta de produtos alimentares e de consumo básico e a tentativa de instauração de um clima de caos. Congeminando soluções golpistas, a oposição não deixa de acenar com a saída do reformismo para o interior do movimento bolivariano e do aparelho estatal.

A Venezuela está imersa num processo revolucionário com características próprias em muito inéditas. Num percurso sinuoso, partindo de uma revolução de libertação nacional que se procura consolidar na via de uma transição socialista, corajosamente assumida por Chávez em 2006 e reiterada pelo actual Presidente, Nicolás Maduro, o país vive as contradições de um processo de transformações incompleto, em que o novo ainda só começou a brotar e o velho ainda persiste. No campo bolivariano há consciência de que as relações de produção dominantes continuam a ser capitalistas, inseparáveis da matriz económica rentista assente na exploração e exportação petrolíferas, excessivamente dependente das importações (alimentos, artigos de consumo e equipamentos). A campanha subversiva da direita, acalentada por mais de sete milhões de votos, contribuiu para a agudização da conjuntura económica em que sobressaem os desequilíbrios produtivos e estruturais da economia venezuelana num contexto em que a revolução bolivariana elevou sensivelmente, não apenas o PIB, mas também – e mais – a capacidade aquisitiva e o consumo de amplas camadas.

A resposta do Governo concentra-se em desarmar a desestabilização e atender os problemas mais agudos causadores de mal-estar social. Ao mesmo tempo trata de avançar com medidas estratégicas de elevação da capacidade produtiva e participação dos trabalhadores, sem a organização dos quais não existe sujeito revolucionário.

A determinação das massas venezuelanas é preponderante. Já sem a presença física de Chávez, a iniciativa permanece no campo bolivariano. A unidade concreta das forças anti-imperialistas e revolucionárias é essencial, num momento em que os EUA ainda não reconheceram Maduro e intensificam as pressões para reverter a correlação de forças na América Latina que não tem sido favorável ao imperialismo.



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