Depois do «fim da História»

Filipe Diniz

O realizador Henry-Georges Clouzout perguntou certa vez a Jean-Luc Godard se não achava que os filmes deveriam ter um princípio, um meio e um fim. A resposta foi: «sim, mas não necessariamente por essa ordem». Quando se pensa no «Fim da História e o último homem», publicado por Fukuyama há onze anos, essa resposta ganha um novo significado.

Porque todos os argumentos então invocados para afirmar esse «fim» foram desmentidos. E foi o próprio capitalismo quem se encarregou de os desmentir. A «democracia liberal moderna», o «estado homogéneo e universal», última fase da história humana por «satisfazer completamente» o homem graças ao «efeito nivelador» do desenvolvimento económico e à «igualdade de oportunidades» que este proporciona, se já constituíam uma fraude intelectual quando o livro foi publicado constituem hoje uma repugnante anedota. A crise geral do capitalismo fez ruir essa utopia de «desenvolvimento». A riqueza e a pobreza acentuaram a sua polarização em cada país e entre diferentes países. A pobreza e o desemprego atingem dimensões de tragédia social; a distância entre o GNI (rendimento bruto nacional) per capita de países de desenvolvimento muito elevado e países de desenvolvimento baixo aumentou 1,35 vezes entre 1990 e 2012 (PNUD).

O «fim da história» seria o fim da luta de classes. Mas nestes 11 anos a luta de classes não apenas se agudizou, como se trava com dureza em todas as esferas da vida das sociedades: no trabalho, na economia, na educação e no ensino, na cultura, na reconfiguração dos estados, nas agressões imperialistas contra os povos. Ofensiva da grande burguesia tentando fazer tábua rasa de direitos dos trabalhadores e dos povos conquistados ao longo de mais de dois séculos. Resistência heróica de trabalhadores e povos que não cedem nas suas conquistas, e em algumas circunstâncias conseguem mesmo fazê-las avançar.

Nem no tempo da escravatura e da mais completa opressão a história se deteve. Há-de atingir, provavelmente, «um Estado homogéneo e universal»: o da sociedade sem classes. Depois do «fim da História», como nos filmes de Godard, há ainda muita História por fazer.



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