Macro astrologia

Jorge Cordeiro

A julgar pelo que dizem, ser-se-ia levado a pensar que neste governo tudo se baseia em matéria de condução das políticas económica a uma questão de «fezada». Ainda que mal comparado, medidas as distâncias e sem desprimor para os que vão lendo nas estrelas, seria de supor, olhando para o que a realidade todos o dias põe a descoberto que ali para o lado do conselho de ministros, entre gráficos, folhas de cálculo, barras e curvas de projecção se vai rejubilando com as previsões produzidas. Sempre e todas elas, por mais desmentidas que sejam pelos factos, dentro dos cenários macroeconómicos, em linha com as perspectivas do Governo, de acordo com as execuções orçamentais. E se por ingratidão das estrelas ou por teimosia dessa arreliadora variável que dá pelo nome de realidade, as previsões voaram, há sempre à mão aquele «ajustamento» que por via de mais um roubos nos salários, uns cortes na saúde, umas reduções na protecção social, uns quantos despedimentos, há-de permitir para gáudio dos videntes regressar à Gomes Teixeira para uma nova sessão de cartomancia ou para decidir sobre o novo «sucesso» a anunciar. Aqueles «sucessos» que são todos e cada um por si um prego mais no caixão onde querem enfiar o país: Num dia, o do chamado alargamento da maturidade da dívida nacional para amanhã se dar a conhecer esse brutal recorde de desemprego para onde já estão atirados quase milhão e meio de portugueses; noutro, o do regresso aos mercados obtido a juros impagáveis de 6% para no dia seguinte se ficar a saber de uma recessão recorde de 3,9% no primeiro trimestre deste ano, num rumo de declínio económico sem fim à vista; e noutro ainda, o anúncio desse milagroso programa do ministro da economia para «o crescimento e para o emprego», destroçado no dia a seguir pela mão do primeiro-ministro com o anúncio de um novo e devastador pacote de medidas contra os trabalhadores, os reformados, a economia.

Sendo certo que ninguém anda enganado, nem os que alinham previsões e constroem cenários macro-económicos, nem os que sabem que pela política realizada a vida só os pode desmentir, o que de decisivo se impõe é tão cedo quanto possível não dar mais tempo a este Governo e a esta política.



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