Destruir maternidades também é negócio!

Manuel Gouveia

A propósito da tentativa em curso de encerramento da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, os seus trabalhadores reunidos em plenário elaboraram um importante documento onde apontam as (esmagadoras!) razões para o seu não encerramento – no que foram já segundados pelos utentes.

Do outro lado da barricada, o representante do BES no Ministério da Saúde vai balbuciando o discurso salazarento dos poupadinhos, escondendo que as razões são outras: é necessário encerrar a Alfredo da Costa para criar clientes às maternidades privadas e para que os recursos públicos que nela são investidos possam ser desviados para os grupos económicos que querem ganhar ainda mais dinheiro com a saúde (e, já agora, para entregar à especulação imobiliária os terrenos da Maternidade no centro da capital do País).

Nesta questão – como em todas as questões estruturantes nas sociedades organizadas em classes antagónicas – não há espaço para um debate racional que vise o bem comum pois as necessidades que as opções em confronto visam satisfazer são elas próprias antagónicas. Destruir ou manter a Maternidade serve racionalmente interesses opostos – e são esses interesses que têm que ser crescentemente chamados à liça por quem, como nós, insere cada batalha de resistência no processo de acumulação de forças para a ruptura.

A luta que se trava não mede a validade dos argumentos de uma e outra parte. Mede a força das classes em confronto para impor os seus interesses! A luta dos trabalhadores e dos utentes pode salvar a Maternidade na medida em que o preço que a burguesia esteja a pagar por este crime seja superior às vantagens que conta dele extrair ou esteja a fazer perigar a própria manutenção dos seus privilégios e regalias (é que os criminosos que ganham com a destruição de maternidades são os mesmos que ganham com as reduções de salários e pensões, com o encerramento de fábricas, etc.).

A luta em defesa da Maternidade Alfredo da Costa, que os comunistas travarão com milhares de outros cidadãos, é, ainda, um bom exemplo da acção revolucionária de projectar no presente e futuro de Portugal os valores de Abril.



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