À deriva
O Governo de Passos Coelho parece já andar à deriva, tantas são as gaffes, os desmentidos e as decisões contraditórias. Para percebermos a situação, há que recuar.
A actual «crise» capitalista emergiu com a «crise do sub-prime» nos EUA, que desembocou, de imediato, na canalização de rios de dinheiro dos povos para tapar o «buraco» – tão desmedido como insondável – aberto pela especulação mundial sem freio.
Deste desastre capitalista não resultou a mínima consequência para os seus responsáveis – os grandes especuladores financeiros das Bancas e das Bolsas –, chegando-se ao desplante de reconduzir nos seus altos cargos (e remunerações) a generalidade dos banqueiros responsáveis que, exibindo a sua fibra, a primeira coisa que fizeram, após «recondução», foi abotoarem-se com mais uma data de milhões para si próprios.
Milhões, diga-se, directamente extorquidos aos respectivos povos em forma dos tais rios de dinheiros públicos canalizados para que o sistema «não entrasse em colapso».
Para tal, reconduziu-se os que... têm levado o «sistema» a esse colapso.
A única mudança visível do capitalismo nesta conjuntura foi reagir com uma brutal agressividade sobre os povos, procurando recuperar os superlucros perdidos e, assim, desencadear um ataque generalizado aos direitos, liberdades e garantias dos povos.
E a armadilha foi-se urdindo.
Após a incomensurável «bolha» do sub-prime ter rebentado, duas coisas se fizeram no imediato: uma, apresentá-la como o «fim do mundo» se não fossem tomadas «medidas»; outra, propor como «medidas» o despejar de rios de dinheiros públicos para «tapar o buraco».
Posto isto, chegou-se a um novo patamar, o das «dívidas públicas», uma forma ainda mais generalizada de espoliar os povos, garrotando os mais fracos e vulneráveis através de «ajudas externas» com duas concomitantes consequências: uma, encher à tripa-forra os cofres dos especuladores com juros vampirescos sobre o dinheiro «emprestado» (a Alemanha e súbditos pontificam na UE), outra, espoliar povos inteiros de direitos básicos e fundamentais, como o direito ao trabalho e à segurança no emprego, ao salário digno, à protecção social, à Saúde, ao Ensino, ao descanso e ao lazer, à reforma adequada.
Tudo caucionado pela tal «crise», qual maremoto incontrolável e que, por isso, parece permitir todos os desmandos a quem ordena – a finança e os grandes especuladores – e a quem procura executar esse comando – os governos nacionais que sejam títeres desta pretensa nova ordem mundial.
É o caso flagrante do Governo de Passos Coelho, cuja rota ondulando em avanços e recuos, afirmações e desmentidos tem apenas uma linha concreta e objectiva: destruir, o mais depressa e o mais completamente possível, a generalidade das conquistas democráticas e sociais alcançadas com o 25 de Abril.
É claro que, mais tarde ou mais cedo, aqui e no mundo, tudo isto vai dar um grande estoiro.
Está escrito nas estrelas, como dizia o outro...