Macron... a TAP... nem assim?

Manuel Gouveia

A eliminação do pensamento crítico já foi tão longe que as classes dominantes já conseguem com que a maioria acredite em duas ideias completamente opostas ao mesmo tempo, sem que a crença numa leve a questionar a outra, ou a questionar as fontes de informação.

É assim com a Rússia, da qual (quase) toda a gente sabe duas coisas: que está exausta, derrotada, incapaz de derrotar a Ucrânia; e que vai invadir a Europa até ao Cabo da Roca ou mesmo até aos Açores. É assim com o PCP, do qual (quase) toda a gente sabe duas coisas: é completamente irrelevante e está condenado a desaparecer; é o responsável por tudo o que de mau acontece em Portugal, desde que Afonso Henriques bateu na mãe até à putativa queda do Governo de Montenegro.

É assim com a TAP, da qual (quase) toda a gente sabe duas coisas: que não vale nada, que é um buraco sem fundo, que só dá prejuízos, e que o melhor é vendê-la depressa ao primeiro palerma que a queira comprar; que as três maiores companhias aéreas da Europa a querem comprar, que até já cá mandaram delegações os alemães e os franceses, a destes, encabeçada pelo próprio Presidente da República.

É que a visita de Macron teve dois objectivos essenciais: conseguir que a TAP vá para a Air France, conseguir que o material circulante da Alta Velocidade seja encomendado à França (para o que é importante mudar a bitola para a bitola usada em França em vez da usada na Península Ibérica.) Em ambos os casos trata-se de garantir negócios para a França e lucros para a classe dominante francesa.

A Lufthansa já tinha lançado há uns meses uma ofensiva pela TAP, que incluiu a visita a Portugal do seu CEO e a assinatura de um protocolo para abrir uma fábrica de peças que (prometem) iria criar 700 postos de trabalho. A British/Ibéria também já fez saber que quer – muito – comprar a TAP, e veremos que iniciativas de diplomacia económica ainda serão lançadas pelos Estados que a suportam.

Nada disto é surpreendente. A TAP vai ser oferecida, pois o preço de venda é o da capitalização que está lá desde a renacionalização, e a companhia tem um valor real muito superior. O que é impressionante é tão pouca gente se questionar se os palermas serão Macron, os CEO da Lufthansa e da Ibéria/IAG, ou todos aqueles que acham que a TAP deve ser vendida, oferecida, destruída…

 



Mais artigos de: Opinião

Um Partido necessário e insubstituível

Uma vez mais, já lá vão 104 anos, o nosso Partido comemora o seu aniversário. Um Partido que, orgulhoso do seu passado, convicto e confiante na sua acção e intervenção presentes, se mostra de olhos postos no futuro – e que faz deste Partido, o Partido Comunista Português, um Partido necessário...

Miséria de pensamento

Desorientação, desconcerto, fuga para a frente. Assim se poderia reduzir a reacção de Bruxelas e das principais potências europeias às mudanças adoptadas pela nova administração em Washington relativamente à guerra na Ucrânia e ao relacionamento com Moscovo, naquela que se afigura como uma potencial inflexão de 180 graus...

Para lá dos casos

Por mais que os casos envolvendo o primeiro-ministro e outros membros do Governo sejam reveladores da promiscuidade existente entre o poder político e os grupos económicos e de uma governação ao serviço de interesses particulares, não é sobre eles esta crónica. Ou não o é apenas. A questão é bem mais funda do que estes...

Recursos, para quem e para quê?

Questionado directamente pelo Secretário-Geral do PCP, num dos primeiros debates com este Governo na AR sobre a necessidade de aumentar os salários e as pensões, o primeiro-ministro respondeu com outra questão: e os recursos? Onde estão os recursos?. Ora, ao contrário do que o PM quis insinuar, o que a realidade mostra...

Vidas em comum

Nestes dias ficámos com a sensação de estar a assistir, ao vivo, a um desentendimento de velhos namorados, daqueles que partilham vidas em comum, mas andam permanentemente amuados um com o outro. Os apelos lancinantes dos mais variados dirigentes do PS, ao PSD e ao Governo para retirarem a moção de confiança e destes ao...