Macron... a TAP... nem assim?
A eliminação do pensamento crítico já foi tão longe que as classes dominantes já conseguem com que a maioria acredite em duas ideias completamente opostas ao mesmo tempo, sem que a crença numa leve a questionar a outra, ou a questionar as fontes de informação.
É assim com a Rússia, da qual (quase) toda a gente sabe duas coisas: que está exausta, derrotada, incapaz de derrotar a Ucrânia; e que vai invadir a Europa até ao Cabo da Roca ou mesmo até aos Açores. É assim com o PCP, do qual (quase) toda a gente sabe duas coisas: é completamente irrelevante e está condenado a desaparecer; é o responsável por tudo o que de mau acontece em Portugal, desde que Afonso Henriques bateu na mãe até à putativa queda do Governo de Montenegro.
É assim com a TAP, da qual (quase) toda a gente sabe duas coisas: que não vale nada, que é um buraco sem fundo, que só dá prejuízos, e que o melhor é vendê-la depressa ao primeiro palerma que a queira comprar; que as três maiores companhias aéreas da Europa a querem comprar, que até já cá mandaram delegações os alemães e os franceses, a destes, encabeçada pelo próprio Presidente da República.
É que a visita de Macron teve dois objectivos essenciais: conseguir que a TAP vá para a Air France, conseguir que o material circulante da Alta Velocidade seja encomendado à França (para o que é importante mudar a bitola para a bitola usada em França em vez da usada na Península Ibérica.) Em ambos os casos trata-se de garantir negócios para a França e lucros para a classe dominante francesa.
A Lufthansa já tinha lançado há uns meses uma ofensiva pela TAP, que incluiu a visita a Portugal do seu CEO e a assinatura de um protocolo para abrir uma fábrica de peças que (prometem) iria criar 700 postos de trabalho. A British/Ibéria também já fez saber que quer – muito – comprar a TAP, e veremos que iniciativas de diplomacia económica ainda serão lançadas pelos Estados que a suportam.
Nada disto é surpreendente. A TAP vai ser oferecida, pois o preço de venda é o da capitalização que está lá desde a renacionalização, e a companhia tem um valor real muito superior. O que é impressionante é tão pouca gente se questionar se os palermas serão Macron, os CEO da Lufthansa e da Ibéria/IAG, ou todos aqueles que acham que a TAP deve ser vendida, oferecida, destruída…