Vidas em comum

João Frazão

Nestes dias ficámos com a sensação de estar a assistir, ao vivo, a um desentendimento de velhos namorados, daqueles que partilham vidas em comum, mas andam permanentemente amuados um com o outro. Os apelos lancinantes dos mais variados dirigentes do PS, ao PSD e ao Governo para retirarem a moção de confiança e destes ao PS para que lha aprovem, são, em absoluto, desta família.

Independentemente de como tudo isto venha a acabar (o que, à hora que escrevo, não me é possível adivinhar), já ninguém nos tira esta barrigada de vergonha alheia face aos posicionamentos de PS e PSD nos desenvolvimentos da situação política no nosso País.

Depois de semanas a não querer reconhecer que só não explica a promiscuidade em que se meteu, porque tal não tem explicação possível, tendo-se armado em forte com a apresentação da moção de confiança, ver o Governo, pela voz de um dos seus principais ministros vir pedinchar ao PS para retirar a proposta da Comissão Parlamentar de Inquérito, oferecendo, em troca, a retirada da moção de confiança, quererá dizer que têm mesmo alguma a esconder?

Depois de ter dito que uma Comissão Parlamentar de Inquérito não se aplicava ao caso presente, o seu anúncio por parte do PS, terá apenas como objectivo mascarar o seu vergonhoso voto contra a moção de censura, que não apenas deu a mão ao Governo, como assinou por baixo, uma vez mais, o conteúdo da sua política que o PCP ali denunciou?

O voto do PS contra a moção de censura do PCP, que questionava o que é essencial, o que todos os dias mexe com a vida dos trabalhadores, dos salários e pensões, dos serviços e da habitação, confirma a sua identificação com a política de direita, como o PCP sempre denunciou.

E para quem ainda não tenha entendido o muito que os une, leia-se a publicação oficial do PS, no passado sábado. «Chumbámos a moção de rejeição do programa eleitoral, viabilizámos a eleição do Presidente da AR, viabilizámos o Orçamento do Estado, e chumbámos duas moções de censura.» Só faltaria lembrar que, no mesmo sentido, o Governo PSD/CDS viveu durante quase um ano com um OE aprovado apenas pelo PS.

Um autêntico romance em que arrufos de circunstância, não serão suficientes para quebrarem as relações, ainda por cima porque têm descendência em comum que ambos veneram, a política de direita e que tratam, em guarda conjunta, com todo o carinho.

 



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