Palestinianos resistem a ameaças, agressões e violações das tréguas

O acordo de cessar-fogo entre a resistência palestiniana e Israel persiste apesar das recorrentes violações por parte das forças israelitas, das ameaças dos EUA e da agressão israelita que se intensifica na Cisjordânia. O Governo português assume a sua cumplicidade ao branquear a política de Israel de ocupação e agressão.

A resistência palestiniana denuncia as recorrentes violações do acordo de cessar-fogo por parte de Israel

Israel permitiu a entrada, no fim de semana (15 e 16), de apenas 140 camiões carregados de ajuda humanitária para a Faixa Gaza – 70 camiões no sábado e outros tantos no domingo –, embora o acordo de tréguas preveja 500 camiões por dia. A resistência palestiniana denuncia ainda outras violações quotidianas do cessar-fogo, incluindo ataques contra populações, manutenção de tropas israelitas em locais de onde deveriam ser retiradas e obstáculos ao regresso dos deslocados às suas localidades.

A resistência palestiniana denunciou ainda que Israel não iniciou a discussão sobre a implementação da segunda fase do acordo de cessar-fogo, negociação cujo começo estava previsto para o inicio de Fevereiro.

Nos últimos dias, o governo israelita incrementou a pressão com ameaças de reiniciar os ataques, depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, ter ameaçado «desencadear o inferno» se não fossem libertados todos os detidos israelitas, o que não está previsto na primeira fase do acordo de cessar-fogo. Espera-se, contudo, que no próximo sábado haja uma nova troca de prisioneiros.

Em pouco mais de 15 meses de agressão israelita contra a Faixa de Gaza foram mortos nesse território cerca de 60 mil palestinianos e ficaram feridos outros 111 mil.

Sexta troca de detidos
No passado dia 15, efectuou-se o sexto intercâmbio de detidos desde o início do acordo de cessar-fogo, no mês passado, tendo Israel recebido três israelitas e entregue 369 palestinianos. Numa cerimónia na cidade de Khan Yunis, no sul, a resistência palestiniana entregou à Cruz Vermelha os três israelitas. Por sua parte, Israel libertou 369 palestinianos, muitos dos quais a cumprir longas penas e os restantes detidos durante os últimos 15 meses. Até agora, no total, os movimentos de resistência libertaram, em seis grupos, 19 israelitas e cinco tailandeses, em troca de cerca de um milhar de palestinianos.

A 15 de Janeiro, a resistência palestiniana e Israel acordaram um cessar-fogo na Faixa de Gaza por 42 dias, com a mediação do Catar, Egipto e EUA, tendo entrado em vigor no dia 19. O acordo, em três fases, estabelece a troca de prisioneiros e a retirada gradual das tropas ocupantes da Faixa de Gaza. A segunda fase ainda não foi negociada.

Palestina rejeita plano
O presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, advertiu que a proposta de Donald Trump de expulsar os palestinianos da Faixa de Gaza procura desviar a atenção do mundo em relação aos crimes israelitas, incluindo assassinatos e destruição generalizada.

Discursando na 38.ª Cimeira da União Africana, em Adis Abeba (ver página 22), o dirigente palestiniano denunciou «os apelos para arrancar o nosso povo da sua terra e deslocá-lo à força e para minar a soberania de outros países». Recordou que dos 2,3 milhões de pessoas que vivem na Faixa de Gaza, 1,5 milhões são descendentes dos refugiados que foram expulsos das suas casas depois da criação de Israel e da guerra de 1948, «durante a qual [os palestinianos] foram submetidos a mais de 50 massacres às mãos dos bandos terroristas sionistas». E reclamou que se trabalhe para prolongar o cessar-fogo e permitir a entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Entretanto, o presidente egípcio, Abdel Fattah El Sisi, reiterou a sua rejeição ao deslocamento forçado da população da Faixa de Gaza e insistiu na continuação do cessar-fogo e na criação do Estado palestiniano. Anunciou ainda o desenvolvimento de um plano de reconstrução na Faixa de Gaza.

Ataques israelitas na Cisjordânia
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) censurou a nova ofensiva militar israelita na Cisjordânia: «Estamos profundamente preocupados pela deterioração da situação à medida que aumenta o número de crianças assassinadas, feridas ou deslocadas à força», acentuou Edouard Beigbeder, director regional da UNICEF para o Médio Oriente e o Norte de África, em comunicado.

Desde o início deste ano, pelo menos 13 menores foram mortos, sete deles após o começo da campanha bélica israelita, a 19 de Janeiro, pormenorizou. Desde o início do actual ciclo de violência na região, em Outubro de 2023, 195 menores palestinianos e três israelitas foram mortos na Cisjordânia, acrescentou. «Há um aumento de 200 por cento no número de crianças palestinianas assassinadas no território nos últimos 16 meses em comparação com os 16 meses anteriores.»

Beigbeder condenou o uso de explosivos, os ataques aéreos e as demolições de habitações por parte de Israel, em especial nas regiões de Jenin, Tulkarem e Tubas. As incursões das forças israelitas provocaram prejuízos importantes na infraestrutura de cidades e povoados, incluindo as redes de fornecimento de água e electricidade, apontou. «As crianças e suas famílias no norte da Cisjordânia, especialmente os que vivem em acampamentos de refugiados, continuam a enfrentar dificuldades incríveis», alertou.

O director regional da UNICEF assinalou que dezenas de milhares de palestinianos foram obrigados a fugir de suas casas na Cisjordânia devido às operações militares israelitas. A educação foi interrompida em quase 100 instalações. «Condenamos todos os actos de violência contra as crianças e exigimos o cessar imediato da actividade armada na Cisjordânia», reiterou.

MPPM condena hipocrisia
O Movimento pelos Direitos do Povo Palestiniano e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) condenou a visita oficial do ministro dos Negócios Estrangeiros português a Israel e denunciou a hipocrisia do Governo, que, «escondendo-se em declarações vagas sobre o apoio à criação do Estado da Palestina, cauciona a política de apartheid, limpeza étnica e agressão que Israel leva a cabo contra o povo palestiniano e outros povos de países vizinhos, e contribui para a sua impunidade».

O MPPM instou, mais uma vez, o Governo português a que «deixe de se refugiar em subterfúgios inaceitáveis e irrelevantes à luz da moral e do direito internacional e reconheça definitiva e incondicionalmente o Estado da Palestina».

Saudou ainda «a resistência determinada do povo palestiniano e reiterou a solidariedade com a sua luta pela libertação de todos os presos, pelo direito de regresso dos refugiados, pelos direitos nacionais imprescritíveis do povo palestiniano, por uma Palestina livre, independente e soberana».

 



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