Contradições em Bruxelas, Munique e Paris

A reunião do grupo de apoio à Ucrânia e a reunião ministerial da NATO, ambas realizadas em Bruxelas, e a Conferência de Segurança de Munique, evidenciaram divergências e contradições entre os EUA e a União Europeia, perante a política da administração Trump.

O relacionamento dos EUA com os “europeus”, em que se insere a forma como lidar com o conflito que se trava na Ucrânia, serão exemplos mais evidentes, nomeadamente com os EUA a enveredarem por negociações directas e bilaterais com a Federação Russa (ver texto nesta página) e a generalidade dos Estados-Membros da UE, bem como as suas instituições, a insistirem no prolongamento do conflito.

Depois do Secretário de Estado da Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmar em Bruxelas que é «irrealista» que a Ucrânia venha a aderir à NATO, o Secretário-Geral da NATO, Mark Rutte, salientou em Munique que essa adesão «não está fora de questão». No entanto, quanto ao aumento dos gastos militares, todos parecem estar de acordo, independentemente dos diferentes pretextos a que recorrem para os tentar justificar.

Dias antes, o presidente norte-americano Donald Trump apresentou às autoridades ucranianas um memorando em que, entre outros draconianos aspectos, assegurava o controlo por parte dos EUA das «terras raras» na Ucrânia, apresentado como contrapartida do apoio militar norte-americano.

No dia 18, o presidente francês, Emmanuel Macron, organizou uma reunião em Paris, que contou com a presença da Alemanha, Itália, Polónia, Espanha, Países Baixos e Dinamarca, do presidente do Conselho da UE e da Comissão Europeia, assim como do Reino Unido e do Secretário-geral da NATO, com o intuito de avaliar a resposta das potências europeias ao posicionamento dos EUA. Também este evento deixou claro o mal-estar face a Washington, pelas posições da administração norte-americana quanto à participação ou não dos “europeus” nas negociações sobre o conflito que se trava na Ucrânia.

No âmbito do encontro na capital francesa, o primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, foi enfático ao afirmar que todos os participantes compreendem que a relação transatlântica, a NATO e a amizade com os EUA «entram numa nova fase» e que a Polónia não enviará tropas para a Ucrânia.

Também o chanceler alemão, Olaf Scholz, a partir de Paris e face à possibilidade de enviar tropas para a Ucrânia, considerou que «é altamente inapropriado», pois «nem sequer sabemos qual será o resultado» das negociações.

Posição diferente tem a Hungria, cujo governo não foi convidado para participar na reunião de alguns países da União Europeia e da NATO na capital francesa. O ministro dos Negócios Estrangeiros húngaro, Peter Szijjarto, considerou que o objectivo do evento não era pacífico: «Hoje, em Paris, líderes europeus frustrados, pró-guerra e anti-Trump estão a unir-se para bloquear um acordo de paz na Ucrânia», declarou.

China afirma princípios
Presente na Conferência de Segurança de Munique esteve o ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Wang Yi, que afirmou os princípios da política externa do seu país face aos desafios do presente. A política chinesa relativa aos EUA, garantiu, caracteriza-se pela sua estabilidade e coerência, baseada nos três princípios propostos pelo presidente Xi Jinping: respeito mútuo, convivência pacífica e cooperação mutuamente vantajosa. As diferenças dos sistemas sociais dos dois países, salientou, devem ser respeitadas como uma escolha legítima dos seus povos.

O dirigente chinês destacou que a convivência pacífica é essencial para evitar conflitos que afectariam o mundo inteiro. «Devemos fortalecer o diálogo, aumentar a compreensão e construir confiança», afirmou. Sobre a cooperação, assinalou que os desafios globais requerem que ambos os países trabalhem juntos e cumpram com as suas responsabilidades internacionais.

Wang Yi, contudo, advertiu que se os EUA insistirem em reprimir ou conter a China, Pequim responderá com firmeza face a qualquer acto unilateral ou abusivo. «A China defenderá a sua soberania nacional, dignidade e direito ao desenvolvimento», declarou, acrescentando que tais acções também visam proteger a equidade e a justiça internacionais.

Na sua intervenção, advogou os princípios da igualdade, respeito pelo direito internacional, multilateralismo e abertura. Propôs quatro pontos essenciais para construir esta ordem global: igualdade entre as nações, respeito pelo direito internacional, prática do multilateralismo e promoção da cooperação aberta.

 



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