«Não nos curvaremos perante as ameaças»
Entre uma série de medidas gravosas, tais como a deportação de migrantes indocumentados, a imposição de tarifas alfandegárias contra a China e a intenção de «solucionar» a questão palestiniana expulsando da Faixa de Gaza cerca de dois milhões de habitantes, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a suspensão de ajuda à África do Sul.
O principal motivo invocado foi a recente aprovação pelo governo de Pretória de uma lei que, em consonância com a Constituição sul-africana, regula a expropriação que «equilibra a necessidade do uso público da terra com a protecção dos proprietários». Segundo a Casa Branca, os EUA vão também acolher e realojar os «refugiados africânderes» [os bóeres, que integram a minoria branca sul-africana], que «escapem à discriminação racial patrocinada pelo governo, incluindo o confisco de bens».
Além de não ter gostado da nova lei agrária sul-africana, a administração norte-americana justifica a sua decisão por a África do Sul ter adoptado «posições agressivas» contra os EUA e seus aliados, incluindo a queixa ao Tribunal Internacional de Justiça acusando Israel pelo genocídio cometido na Faixa de Gaza.
Em resposta, o governo sul-africano acentua que a premissa que fundamenta a decisão dos EUA carece de «precisão factual» e não reconhece «a profunda e dolorosa história do colonialismo e apartheid na África do Sul». E nota ser irónico que o decreto presidencial de Trump preveja o estatuto de refugiado nos EUA para um grupo populacional sul-africano «que continua a estar entre os economicamente mais privilegiados» enquanto os mesmos EUA estejam a deportar pessoas vulneráveis de outras partes do mundo e lhes neguem asilo.
Quanto à «ajuda» suspensa, o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, esclareceu que, com excepção do financiamento de parte do programa nacional de combate ao VIH/SIDA, os EUA não proporcionam qualquer auxílio económico significativo.
Quem apoiou as posições do governo sul-africano e repudiou a medida hostil norte-americana foi, naturalmente, o Partido Comunista Sul-Africano (SACP). Os comunistas realçaram que a África do Sul é um país independente e soberano: «Não somos uma colónia dos EUA ou de qualquer outro Estado: lutámos e lutaremos contra quaisquer tentativas de minar a nossa independência nacional, a nossa soberania democrática e a nossa integridade territorial».
O SACP condenou a ingerência dos EUA nos assuntos internos sul-africanos e reiterou o apoio à legislação aprovada, que visa «permitir que os cidadãos tenham acesso à terra numa base equitativa» e «corrigir os resultados da discriminação racial do passado».
Na verdade, as ameaças e ingerências das classes dominantes dos EUA contra a África do Sul, o seu povo, o seu governo democrático, as suas organizações progressistas, têm explicação. O imperialismo norte-americano odeia e tenta subjugar, ou mesmo liquidar, as forças que se opõem ao seu domínio e procuram trilhar caminhos próprios para o desenvolvimento, consolidar a independência, reforçar a soberania, pôr fim à exploração.
Como garantem os comunistas sul-africanos perante os recentes ataques de Washington, «a África do Sul pertence a todos os sul-africanos que nela vivem. Não nos curvaremos perante as ameaças imperialistas. A luta continua!»