Das facetas do capitalismo

João Frazão

Face à mais recente mudança do inquilino da Casa Branca, perante o grotesco das suas opiniões a afirmações, tendo presente o que anunciou na campanha eleitoral e o que já fez nos primeiros dias do seu mandato, adensam-se, justamente, as preocupações dos democratas.

Tendo ficado inquietos com o seleccionado lote de reputados reaccionários convidados para a tomada de posse, confrontados com o arrazoado de ordens executivas assinadas perante as câmaras de televisão para terem o maior impacto possível e que incluem, entre outros horrores, a deportação arbitrária de cidadãos imigrantes ou o agravamento dos ataques a Cuba e ao seu determinado povo, vendo o séquito de que se rodeou, em que pontifica como um dos principais milionários do planeta, que agora se sente à vontade para revelar as suas simpatias fascistas, compreende-se um justificado temor e uma natural perturbação.

Entretanto, não obstante as substantivas diferenças de ritmo, de método de acção, de objectivos e de adversários preferenciais no imediato, é necessário dizer que Trump não é apenas um produto dos entorses antidemocráticos do sistema político e eleitoral e da crise estrutural que o capitalismo norte-americano atravessa, antes assegura a continuidade da acção de sucessivas administrações norte-americanas, tanto na gestão caseira, como nos assuntos internacionais.

Sim, Trump é mau, é muito mau. Trump aposta na guerra e tem um projecto de rapina dos povos. Mas o que fizeram Biden, Obama, Bush, Clinton ou Reagan antes dele? Quantos bombardeamentos ordenaram? Quantas acções de ingerência nos assuntos de outros países dirigiram? Por quantas mortes são responsáveis?

Sim, o imperialismo norte-americano marca o ritmo da exploração e do belicismo. Mas onde estavam os senhores Macrons, as senhoras Von der Leiens, ou os senhor Scholtzs desta Europa quando os povos pediam paz? Estavam do lado da guerra, enviavam armas e mais armas, iam a solo Palestino para autorizar, pessoalmente, os ataques ao seu povo.

Trump não é um defeito, um problema, uma malformação do capitalismo – é apenas uma das suas muitas facetas. O capitalismo é, ele próprio, o problema, o defeito, a malformação na evolução da humanidade. Há que derrotar o capitalismo para que pare de gerar abcessos desta natureza.



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