Oligarcas há muitos

Carlos Gonçalves

Biden, na sua «despedida», dias antes da posse de Trump, deixou dito: «hoje, uma oligarquia está a estabelecer-se na América, com extrema riqueza, poder e influência que ameaça a democracia, os direitos e liberdades.» Muitos comentadores identificaram a «nova» oligarquia com a aliança emergente de Trump com os CEO (e donos) das grandes tecnológicas e «redes sociais», sediadas nos USA, com a dimensão brutal de seis das maiores empresas do mundo – X, Meta, Google, Microsoft, Amazon, OpenAI (inteligência artificial) – cinco mil milhões de clientes/fazedores de dados, a capacidade de impor o «pensamento único» e de decidir da «democracia de mercado» (entendida como voto expresso).

Veio depois a investidura de Trump, mimetizando a tese dos «novos» oligarcas: imagens (nos media e nas redes) dos «donos disto tudo», das tecnológicas e «redes sociais» – Musk (guru do gangue digital reaccionário), Zuckerberg, Bezos, Gates, Pichai, Altman –, cada um a pagar um milhão pela seu cadeirão na cerimónia, que terá custado pouco menos de 200 milhões(!), e contribuindo para os patrocínios, negócios, especulação de cripto-moeda e outros lucros, que podem ascender a mais de 1300 milhões, geridos pelo «comité inaugural» de Trump, com destino aos «protagonistas» envolvidos (tudo em dólares).

Aparentemente, todos ganharam: os «novos» oligarcas do «complexo» das tecnológicas e «redes sociais», com a visibilidade e a imagem do impacto e dos lucros; as centenas de «velhos» oligarcas do complexo militar-industrial, que como sempre estiveram presentes e que, desta vez, pagaram um milhão pelo assento mas tiveram direito a ocultação mediática e à garantia dos próximos grandes negócios – Boeing, Lockheed, Northrop, G. Dinamics, Raytheon; ganhou Biden com a narrativa de que com ele não havia oligarcas; e Trump abichou «modernidade» e milhões. Mas outros terão ganho esclarecimento.

A oligarquia é intrínseca ao imperialismo, há muito que o grandíssimo capital decide na política e no aparelho de poder dos USA. Os grandes interesses militares, tecnológicos e outros sempre ali mandaram e vão persistir, com visibilidade ou sem ela, até à superação revolucionária do capitalismo.

Os que fazem de conta que a oligarquia nasceu hoje ou andam distraídos ou são apenas hipócritas.

 



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