Alinhamentos

Filipe Diniz

Muitos «atlantistas» (mais acertadamente, papagaios do imperialismo EUA/NATO/UE) ainda estão incomodados com Trump. Sobretudo por declarar abertamente coisas que gostariam de ver escondidas sob palavreado menos transparente. Lá chegarão.

Sendo incapazes de discordar no essencial de seja o que for que venha de Washington, agarram-se ao acessório. E com muito elucidativos lapsos, como por exemplo o inevitável Severiano Teixeira (Público, 22.01.2025). Insere historicamente (e sem distanciamento) o «expansionismo» de Trump: «está a afirmar que tem o direito imperial a constituir a sua esfera de influência no continente americano. E que não vai permitir a entrada das outras potências.» Mas sai-lhe o lapso: «não há bela sem senão», ou seja, que o «belo» e historicamente sedimentado expansionismo EUA tem o pequeno problema de vir legitimar o «dos outros» (os do costume). Fugiu-lhe a boca.

Outro tema é o «ressurgir da extrema-direita e do neonazismo»: ficaram chocados com a saudação romana de Musk. É certo que existe um evidente entusiasmo nas redes sociais respectivas (seja nos EUA seja noutros lados) perante «os próximos quatro anos». Mas, tal como o expansionismo EUA, é com a eleição de Trump que esse «ressurgir» se verifica? Estes «antinazis» de fresca data ignoram a longa cumplicidade e apoio entre o imperialismo ocidental e a extrema-direita? Julgam que o essencial aqui é o reanimar do folclore fascista nas redes sociais, enquanto por todos os meios foi preservada e mantida a postos uma rede internacional nazi-fascista desde a II Guerra Mundial (e incentivada antes desta). Que as «forças da liberdade e da democracia» que entusiasticamente apoiam na Ucrânia têm o seu núcleo central nos fascistas do batalhão Azov?

Para esta gente uma coisa não muda. «Nosso» é bom, ponto final. Os «nossos» imperialistas, terroristas e fascistas são sempre de apoiar.



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