Os trabalhadores têm razão

Manuel Rodrigues

Informava na semana passada a Lusa que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, em declarações de 3 de Janeiro, relacionou a greve dos trabalhadores da higiene urbana daquela Autarquia com «interesses partidários», que, no entanto, se recusou a identificar.

E num apelo patético à «responsabilidade» dos trabalhadores, que é o mesmo que dizer, ao abandono da luta organizada pelos seus sindicatos – o STML e o STAL – afiançava que «o ano de 2025 vai ser um ano difícil», mas que a CML lá estará para diferenciar. Ou seja, lendo nas entrelinhas, premiar os que se portarem bem – nas suas palavras, «aqueles que põem à frente os interesses dos lisboetas, mas sobretudo o interesse dos trabalhadores, e não os interesses partidários, nem os interesses sindicais», que é como quem diz, que abdiquem da luta – e para castigar os que se portarem mal, ou seja os que lutam de forma organizada pelos seus direitos.

Afiançou ainda que esta greve «é um tema político» e a prova disso é os sindicatos terem-se recusado a negociar.

Ora, o Presidente da CML não só mente ao afirmar a indisponibilidade dos sindicatos para negociar como, ao invés, ele sim é que não se mostrou disponível para dar resposta aos problemas que afectam os trabalhadores da higiene urbana da Autarquia não cumprindo grande parte do acordo celebrado em 2023 e recusando-se a responder positivamente ao memorando reivindicativo do sector, que recolheu mais de 800 assinaturas, entregue na Câmara em Maio do ano passado e que, entre outras coisas, reclamava a contratação de mais trabalhadores (há actualmente um défice de 208 trabalhadores, face ao descrito no Mapa de Pessoal da CML/24 e 22,6% da força de trabalho está diminuída fisicamente ou de baixa por acidentes de trabalho); a aquisição de mais viaturas, operacionais (45,2% das viaturas essenciais à remoção estão inoperacionais). Acresce ainda a justa reivindicação dos trabalhadores de actualização, em valores e percentagens, do suplemento de insalubridade e penosidade e de avançar na concretização da identificação e regulamentação das profissões de desgaste rápido, questão urgente face ao elevado número de acidentes de trabalho e doenças profissionais directamente relacionadas com a actividade desenvolvida. Muitas destas questões arrastam-se há anos, sendo indissociáveis da «reforma administrativa» de 2012, acordada entre PS e PSD.

Pensará Carlos Moedas que vai intimidar os trabalhadores e as suas organizações sindicais e demovê-los da luta, procurando dividir os trabalhadores e mentindo tão descaradaMENTE?...



Mais artigos de: Opinião

A luta pela alternativa em Lisboa – um caso exemplar

Lisboa é expressão concentrada das opções da política de direita. Em 24 anos, o governo da cidade foi repartido entre PSD/CDS ou sucedâneos – 10 anos no total – e PS – durante 14. Sem prejuízo de diferenças, particularidades e atribulações diversas, este período é marcado pela continuidade...

O cortejo de hipócritas

Na sequência das eleições realizadas a 28 de Julho, Nicolás Maduro tomará posse como Presidente da República Bolivariana da Venezuela, para o período 2025/2031, perante a Assembleia Nacional da Venezuela, amanhã, 10 de Janeiro. No entanto, e à semelhança do que se verificou durante as mais de duas décadas de ingerência,...

Memória

A actriz brasileira Fernanda Torres recebeu há dias, em Hollywood, o Globo de Ouro pela sua interpretação no filme Ainda Estou Aqui, apresentado em Setembro no Festival de Veneza, onde foi aplaudido de pé por mais de 10 minutos. Visto já por mais de três milhões de pessoas no Brasil, tem estreia marcada para as salas...

Início de ano na Palestina

«Estão a festejar? Aproveitem, enquanto morremos. Há um ano e meio que estamos a morrer». A frase é de um palestiniano, habitante de Gaza que carregava nos seus braços uma criança morta pelos ataques israelitas contra o campo de refugiados de Bureij, no centro da Faixa de Gaza, no dia 1 de Janeiro. Nesse mesmo dia, Khan...

«Pré-escolar recebe mais alunos mas os pobres são cada vez menos»

O titulo é do JN, acrescentando que «apenas 13% dos menores em risco de exclusão frequentam jardins de infância. Faltam 600 salas nas áreas metropolitanas de Porto e Lisboa». A notícia baseia-se nos dados do Eurostat, que fixa o número de crianças em Portugal em risco de pobreza em 2023 nas 379 mil. Destas, 13,4% das...