Início de ano na Palestina

Ângelo Alves

«Estão a festejar? Aproveitem, enquanto morremos. Há um ano e meio que estamos a morrer». A frase é de um palestiniano, habitante de Gaza que carregava nos seus braços uma criança morta pelos ataques israelitas contra o campo de refugiados de Bureij, no centro da Faixa de Gaza, no dia 1 de Janeiro. Nesse mesmo dia, Khan Younis, no Sul, e Jabalia, no Norte, foram também alvo dos ataques de Israel.

No total, Israel matou 28 pessoas na Faixa de Gaza só no primeiro dia do ano, a maioria mulheres e crianças. No dia 2 de Janeiro foram mortas 63 pessoas e no terceiro dia do ano 77. Na Cisjordânia multiplicam-se ataques, assassinatos e provocações.

Desde 7 de Outubro de 2023, Israel já matou 46 mil palestinianos, feriu 110 mil e os desaparecidos contam-se na ordem das dezenas de milhar. Mas enquanto prossegue manipulações em torno de uma suposta decisão de retomar negociações, Israel mostra no terreno as suas reais intenções, age sem freio nos dentes e leva a cabo autênticas atrocidades. Além dos ataques militares directos, destrói metodicamente o sistema de saúde em Gaza e, simultaneamente, impede de várias formas a assistência e ajuda humanitária.

Os mais de 600 ataques a infra-estruturas médicas, denunciadas pela OMS; o ataque e encerramento, nos últimos 10 dias, de todos os três hospitais que ainda funcionavam no norte de Gaza; o assassinato de mais de 500 profissionais de saúde desde Outubro; o sequestro e tortura de responsáveis hospitalares; o bloqueio à evacuação de doentes graves; o impedimento da entrada de ajuda humanitária com terríveis consequências e mortes por fome e hipotermia; o assassinato desde o início do ano de quase uma dezena de responsáveis pela organização e monitorização da ajuda humanitária; a recente ordem de encerramento das actividades da UNRWA em Gaza e na Cisjordânia – são tenebrosos crimes de guerra que deveriam suscitar a mais ampla condenação e medidas concretas contra Israel e os seus crimes.

Os EUA fazem exactamente o contrário, anunciando mais oito mil milhões de dólares de “ajuda militar” a Israel, num pacote que inclui munições, helicópteros e mísseis. Tudo isto são razões para neste novo ano levarmos mais longe a nossa solidariedade e luta, ao lado do heróico povo palestiniano, pela justiça e pela paz.



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