Fidelização? E porque não umas grilhetas?
Discute-se nestes dias natalícios o problema dos pobres patrões portugueses que ficaram sem trabalhadores para explorar da forma como querem explorar e são forçados a recorrer à contratação de imigrantes. Mas, pobres patrões, esses imigrantes, assim que se arranjam com os papéis necessários para trabalhar, largam-nos e vão atrás dos trabalhadores portugueses que imigraram para outros países da União Europeia.
E de que se lembraram as piadosas criaturas e o piadoso governo que vive para as servir? De «um período de fidelização», que impeça o dito imigrante de imigrar de novo. Ora, se o telemóvel vem de borla a troco de um período de fidelização, se a box da TV e o canal XXX só custam 5 euros a troco de fidelização, porque não os imigrantes? Parece muito mais civilizado que umas grilhetas, que era o mecanismo de fidelização usado até há 200 anos atrás.
Claro que nem patrões nem governo, ambos com a opinião de que é preciso reduzir ainda mais os salários, serão alguma vez capazes de chegar à conclusão de que o problema está nos baixos salários, e só tem solução aumentando os salários e o poder aquisitivo dos salários. Como nunca chegarão à conclusão de que o atraso na tramitação dos processos dos imigrantes tem origem num problema muito simples: faltam trabalhadores no Estado, nomeadamente na AIMA. Um problema que só pode ser resolvido contratando trabalhadores para o Estado. Ora patrões e governo estão de acordo que o Estado tem trabalhadores a mais.
Curioso que tanto o governo como os patrões, que são a favor de flexibilizar até ao infinito as relações laborais, agora já discutem um «período de fidelização»... do trabalhador, que é, convenhamos, uma medida nada flexível. O que só confirma o que sempre soubemos: uns e outros só se preocupam em aumentar a precariedade e a exploração dos trabalhadores.