Chade e Senegal reforçam soberania

Carlos Lopes Pereira

Em N’Djamena, a capital do Chade, ocorreram na semana passada manifestações populares a exigir a retirada das tropas que a França mantém em permanência nesse país centro-africano. Antiga colónia francesa, independente desde 1960, o Chade foi durante décadas um dos mais próximos aliados de Paris e do Ocidente, acolhendo no seu território, em diversos momentos, tropas da França e dos Estados Unidos da América.

Relata a imprensa chadiana que, num dos protestos, em frente à embaixada de Paris, pelas ruas da cidade e junto dos acessos à base que aloja os militares franceses, manifestantes exigiram a retirada das tropas estrangeiras entoando consignas como «Chade para nós, fora com a França» e «Não queremos ver nem um só francês no Chade». O governo chadiano deu apoio explícito à manifestação e um seu representante garantiu aos jornalistas que os protestos só terminarão quando as tropas expedicionárias abandonarem o país.

Dias antes, o governo do presidente Mahamat Déby Itno (vencedor das recentes eleições que o legitimaram na chefia do Estado), pôs termo ao acordo de cooperação com a França no sector da defesa, em vigor desde 2019, considerando-o «completamente obsoleto». «O tratado já não correspondia nem às realidades de segurança, geopolíticas e estratégicas do nosso tempo, nem às nossas legítimas expectativas visando a completa expressão da nossa soberania», justificou o presidente Déby Itno.

Um comunicado oficial reitera que a decisão é um marco histórico desde que o Chade alcançou a independência da França, há mais de 60 anos. E destaca que o fim do tratado de defesa permitirá ao país africano redefinir as suas associações estratégicas em linha com as suas prioridades nacionais.

O rompimento foi anunciado horas depois de um encontro, em N’Djamena, entre os ministros dos Negócios Estrageiros chadiano, Abderaman Koulamallah, e francês, Jean-Noel Barrot.

A França tem colocados no Chade mais de um milhar de efectivos militares que agora serão retirados, segundo um cronograma ainda não precisado. O governo de N’Djamena assinala que o fim da permanência das tropas gaulesas no território não questiona os laços históricos entre os dois países e manifestou o desejo de prosseguir as relações em outras áreas de interesse comum.

As relações neocoloniais da França com países da África Ocidental, suas ex-colónias, têm sido fortemente abaladas nos últimos tempos, nomeadamente com os posicionamentos dos governos do Mali, do Burkina Faso e do Níger que, em defesa da sua soberania nacional, decidiram expulsar dos seus países tropas estrangeiras, sobretudo francesas e norte-americanas.

A França – que vive uma grave crise política e social interna e cujo presidente não tem poupado esforços para escalar e agravar a guerra na Ucrânia –, mantém ainda, na zona ocidental do continente africano, bases militares na Costa do Marfim, no Senegal e no Gabão.

Recentemente, contudo, o presidente senegalês, Bassirou Diomaye Faye, manifestou-se a favor da retirada das tropas francesas do país, como reafirmação da soberania nacional senegalesa. E assegurou que «em breve não mais haverá tropas francesas no Senegal», vincando que a existência de uma base militar é «incompatível» com a soberania do país.

 



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