A hidra
Os ataques na Síria têm ligações não totalmente esclarecidos
O imperialismo espalha o caos e a guerra. Explodiu de novo a guerra na Síria. Os acontecimentos evoluem rapidamente. Mas o fundamental está já claro.
Israel aceitou um “cessar-fogo” com o governo libanês, patrocinado por EUA e França porque, apesar do massacre de civis, foi incapaz de avançar no terreno. Mas é apenas uma manobra dilatória. O ex-embaixador britânico Craig Murray (craigmurray.org.uk, 30.11.24) diz: «Israel passou 72 horas a violar flagrantemente o cessar-fogo sem uma palavra de protesto das potências ocidentais. Logo que alguém ripostar com um único tiro, os EUA e seus satélites dir-se-ão escandalizados, recomeçarão os ferozes bombardeamentos sobre Beirute e Israel avançará». O cessar-fogo também serviu para outra coisa: logo após ser assinado, foi lançado o ataque contra a Síria. Um ataque com bombardeamentos israelitas, uma enorme campanha de desinformação mediática, ligações e apoios regionais ainda não totalmente esclarecidos e gangues terroristas fundamentalistas como tropa de choque.
Convém recordar quem são esses bandos: mudaram de nome (Al Nusra, HTS), mas têm origem na Al-Qaeda e ISIS (Estado Islâmico). São os que há anos espalham o terror com o apoio “ocidental”. São os que comeram em público o coração de soldados, banalizado pela BBC como “canibalismo ritual” (BBC, 5.7.13). São os que cortaram a cabeça a uma criança de 12 anos e orgulhosamente filmaram o acto e colocaram na Internet (BBC, 21.7.16). São os que Israel tratou no seu hospital de campanha nos Montes Golãs sírios ocupados (ynetnews.com, 18.2.14), visitados pessoalmente por Netanyahu (www.youtube.com/watch?v=9vkksqtOTvs) que afirmou ser uma acção humanitária de Israel (como se “Israel” e “humanitário” coubessem numa mesma frase). São os que «nunca atacam Israel, porque são patrocinados por Israel e a CIA», como diz o ex-embaixador Murray (x.com/sahouraxo/status/1862938100936155610). E sobre quem o actual Conselheiro de Segurança Nacional de Biden, Jake Sullivan, escreveu num e-mail para a então MNE Hillary Clinton em 2012: «A AQ [Al Qaeda] está do nosso lado na Síria» (wikileaks.org/clinton-emails/emailid/23225). O ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros inglês, Robin Cook escreveu (Guardian, 8.7.05): «Al-Qaida, literalmente “a base de dados”, foi na sua origem o ficheiro de computador com os milhares de mujahedines recrutados e treinados com a ajuda da CIA para derrotar os russos» [no Afeganistão dos anos 80].
O que se passa? Israel procura cortar o apoio de Irão e Síria ao Hezbolá e aos grupos palestinianos que resistem ao genocídio israelita. Mas visa mais longe: prepara o ataque ao Irão, para tentar destruir todo o Eixo da Resistência. Tem o apoio das grandes potências imperialistas e da máquina mediática ao seu serviço.
A hidra monstruosa do imperialismo tem muitas cabeças, incluindo a CIA, a NATO, os nazis ucranianos, os terroristas fundamentalistas, a UE (que tenta reeditar na Geórgia o golpe de 2014 na Ucrânia). Mas tem um centro de comando único: o grande capital financeiro transnacional. Como mostram a História, 14 meses em Gaza e 10 anos na Ucrânia, esta hidra imperialista alimenta-se do sangue das suas vítimas. Mas está desesperada.
Uma dúvida final. Em 11 de Setembro de 2001, Nova Iorque foi vítima dos atentados. A versão oficial dos EUA é que foi obra da Al-Qaeda. Mas se a Al-Qaeda está ao seu serviço, o que realmente se passou naquele dia?