À espera

Anabela Fino

«O Com­plexo Mi­litar In­dus­trial pa­rece querer cer­ti­ficar-se de que a III Guerra Mun­dial co­meça antes de o meu pai ter a opor­tu­ni­dade de criar paz e salvar vidas. Têm de ga­rantir esses tri­liões de dó­lares. Que se lixe a vida!!! Im­becis!»

As pa­la­vras de Do­nald Trump Jr., a pro­pó­sito da au­to­ri­zação dada por Biden a Ze­lensky para usar os mís­seis de longo al­cance norte-ame­ri­canos para atacar ter­ri­tório russo, valem o que valem, não só porque Trump não se pro­nun­ciou, mas so­bre­tudo porque as lutas de gan­gues na Amé­rica só por aci­dente be­ne­fi­ciam a paz mun­dial. Mas a as­serção é per­ti­nente, dado que a de­cisão, ex­tre­ma­mente pe­ri­gosa, re­pre­senta uma es­ca­lada na guerra na Ucrânia, e foi to­mada jus­ta­mente quando Biden está prestes a deixar a Casa Branca.

Não se sabe se o pre­si­dente eleito foi in­for­mado da ini­ci­a­tiva da ad­mi­nis­tração ces­sante, mas a fazer fé em Trump Jr. é de ad­mitir que não. O facto não pa­rece ter in­co­mo­dado os be­li­cistas eu­ro­peus, com o pre­si­dente francês Ma­cron a con­si­derar a de­cisão dos EUA «ab­so­lu­ta­mente cor­recta» e a apressar-se a se­guir-lhe o exemplo, e a pre­si­dente do Par­la­mento Eu­ropeu, Ro­berta Met­sola, a apelar à Ale­manha para dar mís­seis Taurus à Ucrânia.

Por estes dias, o PE pro­ta­go­nizou, aliás, uma cena tão ar­re­pi­ante quanto gro­tesca ao aplaudir de pé, en­tu­si­as­ti­ca­mente, o uso de mís­seis de longo al­cance norte-ame­ri­canos contra a Rússia. O en­tu­si­asmo com a es­ca­lada be­li­cista ma­ni­fes­tado pelas grandes “fa­mí­lias” po­lí­ticas com as­sento no PE deve ter fi­cado ao rubro, dia 20, com a outra prenda dos EUA a Ze­lensky, desta feita as ce­le­radas minas an­ti­pes­soais made in usa, anun­ciada cinco dias antes da 5.ª Con­fe­rência de Re­visão do Tra­tado de Ot­tawa, de 1997, sobre a proi­bição de minas ter­res­tres an­ti­pes­soais no mundo, que esta se­gunda-feira levou re­pre­sen­tantes de cen­tenas de países a Siem Reap, no Cam­boja. Um Tra­tado, re­giste-se a ironia, que a Ucrânia subs­creveu em 2006, tal como os países da NATO, com ex­cepção dos EUA.

Se­gundo o re­la­tório anual do Mo­nitor de Minas Ter­res­tres, pu­bli­cado a se­mana pas­sada, as minas e os re­sí­duos ex­plo­sivos de guerra (ERW) ma­taram ou fe­riram pelo menos 5757 pes­soas em 2023, mais de um mi­lhar do que em 2022 (4710 ví­timas). Cerca de 84% delas, de cin­quenta países di­fe­rentes, eram civis.

O ca­niche dos EUA juntou-se à his­teria bé­lica, como seria de se es­perar, e os mís­seis de cu­zeiro bri­tâ­nicos Storm Sha­dows já en­traram em acção. Também a França e a Ale­manha não qui­seram perder a opor­tu­ni­dade aberta por Washington: os mís­seis SCALP fran­ceses re­ce­beram luz verde para avançar e os Taurus ale­mães estão na linha de par­tida, a tentar des­viar as aten­ções da pro­funda crise po­lí­tica e eco­nó­mica em que a Ale­manha, a ca­minho da re­cessão, está mer­gu­lhada.

É um “chega-te para lá” nesta cor­rida de mís­seis so­li­dá­rios! É a di­plo­macia das ca­nho­neiras versão séc. XXI à es­pera do nu­clear. Em nome da paz, suas bestas!

 



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