Uma vergonha de setinha

Margarida Botelho

A abjecta “proposta” de despejar de casa quem tenha participado em “tumultos”, aprovada na Câmara de Loures com os votos do PS, do PSD e do Chega e o voto contra da CDU, mereceu setinha para cima no Expresso, com fotografia do presidente Ricardo Leão, nos termos que se transcrevem: «não será a forma mais rápida de atenuar a tensão que se registou (e continua a registar) nos bairros periféricos de Lisboa durante as últimas semanas. Porém, as declarações do autarca do PS, mesmo que feridas de ilegalidade, têm um fundo de justiça ao não avalizarem alojamento municipal aos cidadãos condenados por participação nos tumultos.» Também mereceu defesa acalorada de Ângela Silva, jornalista do mesmo jornal e comentadora da SIC, que, questionada pelo colega de debate sobre que responsabilidade teriam mulher e filhos de uma pessoa condenada para serem despejados também, respondeu «têm a responsabilidade de terem um pai e um marido que é um criminoso».

É uma medida desumana, irracional, ilegal. Proposta pelo Chega, mas que PS, PSD, o Expresso e quejandos não hesitaram em assumir. Alguns ensaiarão depois uns ares de choque e preocupação, traçarão linhas vermelhas, culparão as redes sociais pelo crescimento da extrema-direita. Mas quando é hora, assumem os mais reaccionários projectos.

Há felizmente quem se levante com dignidade e humanidade perante isto: é o que representa o voto contra da CDU. Este caso deve servir de reflexão no momento de decidir o voto nas próximas eleições autárquicas, em Loures e em todo o País. A CDU é o voto certo, a esquerda de confiança, que não embarca em populismos nem se confunde nunca com a direita.

 



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