Reorganização «passa ao lado» do que é necessário para o SNS
O PCP considera que o plano de reorganização para as urgências de obstetrícia/ginecologia e pediatria, apresentado terça-feira pelo Ministério da Saúde (MS), «passa ao lado» daquilo que é efectivamente necessário para assegurar o adequado funcionamento dos serviços».
Acentua-se a degradação do serviço público de saúde
«Da parte do Governo não houve nenhuma medida para valorizar os profissionais de saúde e lhes garantir condições de trabalho, o que, como todos nós sabemos, é condição essencial para fixar profissionais no Serviço Nacional de Saúde» (SNS), apontou Paula Santos, em declarações prestadas no mesmo dia na Assembleia da República (AR).
Para a presidente do Grupo Parlamentar do PCP, o objectivo passa, na prática, por «condicionar o acesso dos utentes ao SNS». «Muitas vezes o recurso às urgências hospitalares resulta da falta de resposta ao nível dos cuidados de saúde primários (CSP). Seria importante assegurar uma resposta efectiva ao nível dos CSP, em particular para a doença aguda mais ligeira», de forma a dar «uma maior resposta de proximidade e deixar as urgências hospitalares de obstetrícia e pediatria para as situações mais complexas», defendeu.
Paula Santos criticou também a decisão de aumentar o «trabalho extraordinário nas urgências de obstetrícia», uma vez que «vai levar a que mais profissionais se desmotivem e acabem por sair do SNS». Em alternativa, defendeu a necessidade de «valorizar carreiras e salários», com «melhores condições de trabalho» para que os profissionais se fixem, garantindo que «todos os utentes tenham acesso aos serviços de saúde a que têm direito».
Medidas ricas em propaganda
Também a Federação Nacional dos Médicos (FNAM) reagiu às medidas anunciadas esta semana, que, salientou, «não vão resolver os problemas do SNS» por não preverem «o reforço dos recursos humanos».
Segundo explica em comunicado, as «grávidas vão continuar reféns de linhas telefónicas em substituição do atendimento presencial» e a «vacinação, que sempre foi assegurada pelos CSP, é transferida para as farmácias, sem justificação válida», o que «acarreta custos adicionais ao erário público e faz com que sejam perdidos momentos de contacto do utente com a sua equipa de saúde familiar».
Segundo a FNAM, o MS é também «omisso» nas medidas para «garantir a capacidade dos serviços que tutela para receber, confirmar e tratar, em tempo útil, todos os casos de cancro da mama que vão surgir com a redução da idade do rastreio», assim como para «a realização da ressonância magnética indicada após um rastreio por mamografia em mulheres com menos de 50 anos».
Relativamente ao tão «propagandeado» Onco-stop, a Federação refere que tem como objectivo «servir a engenharia estatística do MS», quando «apenas garantiu a marcação da cirurgia – não a sua realização – e não evitou o aumento da lista de espera».