A África que se liberta e forja a sua unidade

Carlos Lopes Pereira

Há cerca de um ano, três países africanos, Mali, Burkina Faso e Níger, constituíram a Aliança de Estados do Sahel (AES), com o objectivo de promover o desenvolvimento e o progresso social, desde logo combatendo os grupos terroristas que operam na zona e impedem os povos de viver e trabalhar em paz.

Antes disso, os governos militares de transição em Bamako, Uagadugu e Niamey, gozando de grande apoio popular, expulsaram dos seus territórios as tropas francesas e norte-americanas e encerraram as bases militares estrangeiras ali instaladas há mais de uma década a pretexto de combater o terrorismo jihadista. Estabeleceram um pacto de defesa colectiva e decidiram abandonar a Cedeao (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental), presidida pela Nigéria, rejeitando as ameaças de intervenção militar dessa organização sub-regional e acusando-a de ser um instrumento ao serviço dos interesses neocolonialistas da França. E, afirmando a sua soberania, proclamaram o direito de promover relações de amizade e cooperação económica, militar e outra, com países como a Rússia, a China ou a Índia.

Não tem sido fácil o caminho de dignidade escolhido pelos dirigentes malianos, burquinenses e nigerinos. As acções terroristas intensificaram-se, sobretudo no Mali e no Níger. A mais grave ocorreu em Bamako, semana passada, quando membros de um grupo saheliano, afiliado na Al Qaeda, assaltaram uma escola de formação da polícia militar e um quartel junto do aeroporto, nos arredores da capital, provocando dezenas de mortos e feridos.

Os dirigentes da AES reconhecem que os seus exércitos «enfrentam sérios desafios frente a inimigos apoiados por países terceiros», e não só apontam para o envolvimento da França e dos EUA como também acusam a Ucrânia, que «decidiu abertamente pôr-se do lado do terrorismo no Sahel». De facto, meios de informação franceses noticiaram que membros de diversos grupos separatistas malianos viajaram para a Ucrânia a fim de ali receber treino militar, enquanto outros meios, senegaleses, indicaram que as autoridades malianas e mauritanas investigam a presença na região de instrutores militares ucranianos. Em Agosto, Bamako e Niamey cortaram relações diplomáticas com Kiev.

Foi nesta situação complexa – marcada pela luta para restaurar a integridade territorial do país e eliminar definitivamente a ameaça terrorista – que, a 22 de Setembro, o Mali celebrou o 64.º aniversário da sua independência, ocasião para o chefe do Estado, coronel Assimi Goita, dirigir-se à nação.

Prestou homenagem ao herói da independência, Modibo Keita, lembrou que, neste momento, o Mali está empenhado «na reconquista da sua verdadeira soberania» e enumerou os esforços constantes do povo visando a construção de «um Estado forte e uma nação próspera».

Destacou que a diplomacia maliana se mantém activa na defesa dos interesses do país e que o reforço das relações com «parceiros estratégicos que respeitam as nossas escolhas» abriu novas oportunidades. Considerando a AES, com os seus «nobres ideais pan-africanos», um elemento chave na reconfiguração geopolítica da região, e talvez mais além, afirmou que, hoje, o Burkina Faso, o Mali e o Níger «encarnam o renascimento de uma África que se liberta e forja a sua unidade e o seu desenvolvimento em novas bases».

 



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