A economia
O CESP (sindicato dos sectores do comércio, escritórios e serviços, filiado na CGTP-IN) entregou na Assembleia da República uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos reclamando o encerramento do comércio aos domingos e feriados e a redução do período de funcionamento até às 22h00. Na base desta exigência estão três questões: as dificuldades em conciliar a vida profissional com a vida familiar; o respeito pelo tempo de lazer dos trabalhadores; e a necessidade de assegurar o equilíbrio concorrencial entre o comércio tradicional e as grandes superfícies.
A reacção dos patrões não se fez esperar e foi particularmente reveladora – tanto pelo que foi dito como pelos silêncios. Referiram-se a uma «causa do Partido Comunista» e agitaram o espectro da redução salarial (por via do fim das majorações por trabalho prestado «fora de horas») e do desemprego como consequências drásticas que tal medida teria na «economia», como lhe chamam.
Se relativamente à paternidade da causa só lhes podemos agradecer o reconhecimento (embora não seja de todo justo atribuí-la apenas ao PCP), é de perguntar se terão governos comunistas países como Alemanha, Bélgica, Espanha, Grécia, Luxemburgo, Malta, Noruega, Polónia ou Suíça, onde limitações da natureza das que são propostas pelo CESP já vigoram?
Mas deixemos de lado a recorrente e já muito estafada cartada anticomunista e percamos alguma linhas com a restante argumentação.
Ao reconhecerem que o fim do trabalho aos domingos, aos feriados e à noite teria um «impacto significativo» no rendimento dos trabalhadores, os patrões dos centros comerciais não só dão razão a quem denuncia e combate os baixos salários praticados no sector, como procuram esconder que, em muitos casos, essas majorações nem sequer são pagas, devido ao recurso a expedientes como os bancos de horas ou os regimes de adaptabilidade.
O argumento do desemprego também não cola. Nas últimas duas décadas, o número de grandes superfícies aumentou em mais de 20%, com a proliferação de shoppings, hiper e supermercados. Ao mesmo tempo, reduziu-se o contingente de trabalhadores do sector, com os que ficaram a serem sujeitos a horários cada vez mais desregulados e à multiplicação de horas extra muito para além das 40. O que também não se disse é que a semana de 35 horas para todos poderia resultar na criação de 440 mil postos de trabalho e libertaria 240 horas anuais a cada trabalhador para a família, para o lazer, para a participação cívica e política.
Ah, já me esquecia da «economia»: o grupo Sonae, dono do Continente, viu os seus lucros aumentarem 6,4% em 2023, para 357 milhões de euros; a Jerónimo Martins, que detém o Pingo Doce, arrecadou no mesmo período lucros de 756 milhões, mais 28,2% do que no ano anterior.