Sem medidas e sem vergonha

Manuel Rodrigues

Foi sem surpresa que Bernardino Soares, membro do Comité Central do PCP, constatou e denunciou a visita do primeiro-ministro acompanhado pelo Presidente da República ao Hospital de Santa Maria, na semana passada, esclarecendo que, por parte do Governo, não foi anunciada nenhuma medida para começar a resolver o problema fundamental das urgências obstétricas no Serviço Nacional de Saúde, que é o da falta de profissionais. Ou seja, a visita serviu apenas para atirar poeira aos olhos dos portugueses e desviar as atenções daquilo que verdadeiramente é fundamental: a necessidade de criar condições – melhores remunerações, carreiras dignas e melhores condições de trabalho – para que os profissionais de saúde fiquem e regressem ao SNS.

Não se trata de uma questão de haver poucos meses de governação, porque na realidade o Governo, à semelhança do anterior, não tem nenhuma medida, incluindo no seu programa de emergência, para melhorar as condições dos profissionais de saúde. Tem sim muitas medidas para contratar cada vez mais o sector privado.

Ora, perante a situação dramática que a degradação do SNS vai gerando, veio o PS pôr-se em bicos de pés para assacar responsabilidades ao Governo – que as tem e não são poucas – mas, sobretudo para declinar responsabilidades próprias – que as tem e são muitas –, passar uma esponja sobre as suas opções nesta área, como se o que está a acontecer nada tivesse a ver com a mesma política que desenvolveu no governo, deixando agravar os problemas, não investindo e facilitando o caminho para o negócio privado.

Entre a falta de medidas para contrariar a situação e salvar o SNS e a falta de vergonha dos que querem iludir as suas responsabilidades, como diz o povo, «venha o diabo e escolha». São apenas faces da mesma política que, independentemente de pequenas diferenças que haja, pelas mãos do PSD, CDS, PS, Chega e IL o que pretende é desinvestir nos serviços públicos, transferir as funções sociais do Estado para a área dos negócio privados, privar os portugueses de direitos fundamentais.

«Ninguém pode exigir que os problemas se resolvam de um dia para o outro, mas convinha que eles não piorassem», escrevia Adão e Silva no Público do domingo passado. Com as opções políticas que os Governos do PS e do PSD/CDS assumiram os problemas não se resolvem, antes se agravam. E só há uma forma de o impedir: lutar contra esta política, reforçar o PCP e a CDU, pôr de pé uma política alternativa inspirada nos valores de Abril. Em que o direito à saúde tem destacada centralidade.

 



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