Ovacionam porquê?
O imperialismo está pronto a quaisquer crimes para assegurar a sua dominação e os seus lucros
No dia 24 de Julho o sanguinário primeiro-ministro de Israel discursou perante o Congresso [Parlamento] dos Estados Unidos da América. Netanyahu foi acolhido em apoteose. O seu discurso foi interrompido por dezenas de ovações dos Congressistas. O espectáculo foi simultaneamente grotesco e revelador. Fez lembrar a ovação do Parlamento canadiano ao nazi ucraniano Hunka, no ano passado.
Importa perguntar: o que ovacionam os congressistas dos EUA? O genocídio do povo palestiniano? Os 40 mil mortos contabilizados (fora os milhares que jazem sob os escombros de Gaza), na sua maioria crianças e mulheres? Os bombardeamentos, ataques a hospitais, fome, doenças? Ovacionam o assassinato por Israel de centenas de pessoal da saúde e das agências da ONU? A intenção de Israel envolver os EUA numa guerra generalizada a todo o Médio Oriente? A impunidade israelita face a todas as condenações por organismos internacionais? Ou ovacionam os chorudos contributos financeiros que recebem do lóbi sionista?
A verdade é que ovacionam tudo isto, e mais. Ali estava a grande maioria dos parlamentares da ‘nação excepcional’, do ‘farol’ dos liberais, reaccionários, imperialistas e seus apêndices ‘de esquerda’. A ausência de alguns congressistas, inquietos com o seu futuro eleitoral por excesso de ligação ao genocídio do povo palestiniano, foi logo compensada pelas reuniões de Netanyahu com Biden e Kamala Harris. O que Biden-Harris realmente pensam está patente em dez meses de indefectível apoio militar, económico e político a Israel.
Tudo isto mostra a verdadeira essência do imperialismo. A de sempre: genocida, belicista, pronto a quaisquer crimes para assegurar a sua dominação e os seus lucros. Não se trata apenas da dupla EUA-Israel. A União Europeia faz parte do pacote. Apesar do incómodo de alguns governos europeus (expresso em actos importantes, mas essencialmente simbólicos, como o reconhecimento do Estado da Palestina sem que dêem passos para a sua real existência), a verdade é que a UE está do lado do genocida e assiste serenamente à maior chacina do Século XXI. Para Israel não há sanções, bloqueios, ditames, nem sequer a palavra ‘condenação’. Acções militares? Só para apoiar Israel.
Tudo isto mostra também a verdadeira natureza do poder político imperialista, por detrás dos discursos ‘democrático-ocidentais’. Os congressistas sabem que dificilmente terão ‘carreira política’ nos EUA sem ovacionar os criminosos de guerra e endividar o seu país para servir o complexo militar-financeiro-mediático. Durão Barroso chegou a Presidente da Comissão Europeia por ter ajudado, com a Cimeira das Lajes, a mentirosa invasão do Iraque. Ursula von der Leyen acaba de ser re-indigitada (apesar de inúmeros escândalos na compra das vacinas Pfizer, de plágio, de favorecimento de empresas familiares aquando da sua passagem pelo Ministério da Defesa alemão), porque serve fielmente a política de guerra na Europa e de Israel. Teria António Costa chegado a Presidente do Conselho Europeu se em 2019 tivesse tido a dignidade de não seguir as ordens para reconhecer o nunca eleito Guaidó como ‘Presidente da Venezuela’? O povo venezuelano acaba de dar uma lição de soberania e dizer o que quer ao defender o legado de Chávez. Mas o poder imperialista não está cá para servir o interesse dos povos.