«Escutas», lama e conspiração
Mesmo com tudo o que já se viu, é repugnante a náusea mediática de lama e baixa política em torno das «escutas», reais e inventadas – que não se confundem com investigação criminal nem jornalística –, de tretas e factos mal contados, para mistificar questões e lutas fundamentais dos trabalhadores, do povo, da democracia, do desenvolvimento e da paz.
Estamos perante uma deriva em que se especula à exaustão – a escuta deve ou não ser apagada, é relevante, é corrupção, quem deve ser inquirido, a quem serve e quem comanda a fuga, como chegou àquele grupo mediático, quem expõe a escuta e subverte a justiça?
Os media dominantes, os patrões, ideólogos e basbaques do sistema já têm a «resposta», é a mesma de outras operações na matéria. Dizem que a culpa não pode ser dos que vendem jornais e publicidade televisiva com o «escândalo», e que assim escondem a guerra da NATO contra a Rússia ou o genocídio de Israel em Gaza; nem pode ser dos «envolvidos» pelo sistema judicial, que são «gente séria», que pouco ganha com as fugas, o que nem sempre é verdade; restam como «responsáveis» a investigação criminal e o Ministério Público (MP) que a dirige, por «espírito de corpo», manipulação da justiça e «ajuste de contas».
Mas e que tal admitir outras hipóteses de «culpa»? Por exemplo: a elite de barões PS-PSD que, desde a Constituição de 1976 (CRP), está contra a autonomia do MP e agora, no «Manifesto da Justiça», repropõe a governamentalização; ou os protofascistas que articulam, com os media dominantes e as redes sociais, o caos, a instabilidade permanente, o protagonismo sensacionalista e eleitoralista, e que escondem a política e as convergências reaccionárias; ou o «aparelho» que sobra das escutas do Sistema de Informações (SIRP), cuja recolha de metadados, sem qualquer controlo, foi proibida pelo Tribunal Constitucional (e que o SIRP continua a reivindicar), e cujas «ferramentas» estão «desaparecidas»”, estarão em outsorcing?
Qualquer destas hipóteses de comando da operação de «escutas» à tonelada e de ataque ao MP é muito credível, ou então a sua coordenação.
Do ponto de vista da CRP e da democracia, sem descartar melhorias a ver, importa defender a justa autonomia do Ministério Público contra a deriva e o perigo de governamentalização.