Ia a passar por ali…
Entre 2005 e 2010 uma «Comissão Sul-Coreana da Verdade e da Reconciliação» investigou atrocidades e violações dos direitos humanos cometidas na península coreana durante boa parte do séc. XX, desde o período colonial japonês à guerra de 1950-1953 e mais adiante. Dos massacres investigados do período da guerra dos anos 50, verificou que 82% foram cometidos por forças da Coreia do Sul e 18% por forças do norte. Verificou numerosos casos de assassínios em massa de civis cometidos pelos EUA nesse período, e recomendou ao seu governo que reclamasse aos EUA reparações por esses crimes. Para os EUA já era demasiada «verdade e reconciliação» e, em 2010, a comissão foi «reorganizada». Passou a «verificar» que esses massacres por parte dos EUA resultavam de «necessidade militar» ou, num número limitado de casos, a tropa dos EUA actuara com «baixos níveis de ilegalidade» (sic) e, portanto, não era de reclamar reparações. Dá nisto o protectorado.
A Rússia e a RPDC assinaram vários acordos na semana passada, entre os quais um acordo de defesa mútua. Como no vocabulário orwelliano dos EUA (e da NATO) «defesa» significa «ataque», levantou-se o habitual coro histérico mediático. Nem dois dias passados sobre essa assinatura, o porta-aviões Theodore Roosevelt chegava à Coreia do Sul. Ia a passar por ali... Em Abril participara em manobras no mar da China oriental. Em breve haverá novas manobras Coreia do Sul/Japão/EUA (Freedom Edge). Estavam decididas muito antes de ser assinado o acordo Rússia-RPDC.
Ouça-se a marinha dos EUA. Embora ridícula, a coisa é séria: «O Theodore Roosevelt e os aviões que transporta servem como relevantes instrumentos de paz. Seja em que ocasião ou lugar o TR se apresente ao serviço, traz 4,5 acres de soberania e 97 mil toneladas de diplomacia.» Arrogante prosápia, e muito perigosa. O tempo da diplomacia da canhoneira já terá acabado. Mas pode acabar com tudo o resto.