Escalada
1. «Em toda a Europa e Canadá os aliados da NATO estão este ano a aumentar os gastos em defesa em 18%. É o maior incremento em décadas», salientou o ainda Secretário-Geral da NATO, Jens Stoltenberg, no dia 18, à margem de um encontro com o presidente dos EUA – que elogiou, ele próprio, o facto de o número de países membros a cumprir a «meta» dos 2% do PIB para a Defesa ter mais do que duplicado desde que assumiu o cargo. A NATO assume já hoje – e de muito longe – a maior fatia dos extraordinários e crescentes gastos militares mundiais, sendo a primeira responsável pela corrida aos armamentos que marca o nosso tempo: em 2023, os 31 membros da NATO representaram 55% do total mundial (com os EUA, sozinhos, a ultrapassarem os 40%).
2. O Instituto Internacional de Estocolmo para os Estudos da Paz (SIPRI, na sigla inglesa) apresentou um relatório em que realça o aumento do número de ogivas nucleares preparadas para potencial utilização. EUA e Federação Russa concentram 90% do total de armas nucleares existentes, com os primeiros a terem desde há décadas dezenas de ogivas instaladas em países da Europa (Alemanha, Bélgica, Itália, Países Baixos e Turquia) e a Rússia a informar que colocará algumas na Bielorrússia. Segundo o relatório, desde o final da chamada Guerra Fria que as armas nucleares não desempenhavam um papel tão marcante nas relações internacionais. Para um dos responsáveis do SIPRI, «estamos à beira do abismo».
3. Não correu de feição ao imperialismo a «cimeira para a paz na Ucrânia», realizada recentemente na Suíça (e que de «paz» tinha só o nome). Para além dos países ausentes, houve os que participaram como observadores e os que se fizeram representar por delegações modestas. Vários não assinaram o comunicado final. Porquê? O Brasil não o fez por considerar impossível resolver o conflito no Leste da Europa discutindo apenas com uma das partes, defendendo a necessidade de uma negociação efectiva (já proposta anteriormente, aliás, em parceria com a China). A Turquia alegou motivos semelhantes: a cimeira poderia ter sido mais orientada para os resultados, garantiu o representante turco,«se a outra parte no conflito, a Rússia, estivesse presente». Sensivelmente o mesmo disseram a Índia e a Arábia Saudita.
4. Se é hoje mais amplo o campo dos que, preocupados com o risco de uma ainda maior escalada de guerra, se batem por uma solução política, importa lembrar que sempre houve quem o tenha defendido. Logo em Fevereiro de 2022, o PCP apelou à «urgente desescalada do conflito, à instauração de um cessar-fogo e à abertura de uma via negocial». Todos nos lembramos do que então se disse. Tivessem as vozes da paz sido ouvidas e poupar-se-iam muitas vidas: as que já se perderam e as que ainda se perderão.