Exércitos

João Frazão

Nas últimas semanas, convencidos de que, com o agigantar do papão de uma suposta, mas mais que certa, invasão eslava que, começando para lá dos Urais, só se deteria no Covão da Ametade (mais pelos esplendores da paisagem e do fresco das águas, do que propriamente por qualquer dificuldade logística inultrapassável), a que corresponderia uma inadiável necessidade de assegurar uma resposta concertada na «Europa» que, para o efeito, é só metade do que os incidentes geográficos e a historiografica de séculos afiança, convencidos, repete-se, que tal ameaça mobilizaria os mais incautos para o voto, os centros de difusão das ideias dominantes lançaram a atoarda do Exército Europeu.

Sendo útil, para os efeitos pretendidos, gerar um amplo consenso nos partidos do sistema, puseram uns a dizer que «sim senhor, o exército europeu é que é, porque nós temos de ter capacidade de nos defender», outros que «nós também queremos, mas com brigadas de intervenção rápida para intervenção de 3 a 5 dias, que afinal o Rio Volga também não é já ali ao lado e até que cheguem cá, preparar e não preparar, não é assim de um dia para o outro», outros ainda a considerar que «o que é preciso é mais armas para cima deles, mas defensivas, que nós somos da paz», todos metidos do ramalhete do Almirante que diz que «se a NATO mandar, nós marchamos, faça chuva ou faça sol, que, para banhos no Zêzere, estamos cá nós e mais os “nuestros hermanos” espanhóis».

Resta saber quem é que cada um deles está a pensar que pode constituir o dito «Exército Europeu», se, ao mesmo tempo, todos (à excepção do Almirante, que parece ter já as companhias desenhadas para o efeito) dizem não querer ouvir falar em mandar os nossos filhos lá para a guerra, que é muito importante, mas é para os ucranianos morrerem.

Ainda por cima, como uma boa parte deles quer fechar as portas à imigração, nem sequer podem naturalizar uns à pressa, como se faz para as seleções nacionais, para constituir essa força de combate pelos valores do Ocidente, os tais que condenam milhões de seres humanos à fome, à miséria, ao abandono. Ou se calhar, para esse efeito, vão abrir uns contingentes especiais, com contrato a prazo, seguro de saúde e fundo de pensões associado, não vá alguma coisa dar para o torto.

 

 



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