Também na saúde, a emergência do Governo é favorecer os grupos privados

Paula Santos (Membro da Comissão Política)

Foi sem sur­presa que to­mámos co­nhe­ci­mento do Plano de Emer­gência para a Saúde apre­sen­tado pelo Go­verno. As me­didas anun­ci­adas con­firmam a opção po­lí­tica, de PSD e CDS, de apro­vei­ta­mento das di­fi­cul­dades no acesso à saúde, para irem mais longe na trans­fe­rência de pres­tação de cui­dados de saúde para os grupos pri­vados e dos cor­res­pon­dentes re­cursos fi­nan­ceiros.

Das me­didas anun­ci­adas pelo Go­verno, não há uma que seja para fixar pro­fis­si­o­nais de saúde no SNS, quando a falta de pro­fis­si­o­nais de saúde é um dos prin­ci­pais pro­blemas com que o SNS está con­fron­tado e que se re­flecte na falta de con­di­ções de fun­ci­o­na­mento dos ser­viços, no­me­a­da­mente nas ur­gên­cias, nos ele­vados tempos de es­pera para con­sultas e ci­rur­gias e na falta de mé­dicos de fa­mília. Assim como não há uma me­dida que seja para re­forçar o in­ves­ti­mento nas ins­ta­la­ções e nos equi­pa­mentos.

Mas não faltam me­didas para trans­ferir cui­dados de saúde para os grupos pri­vados. Nos cui­dados de saúde pri­má­rios, es­can­caram as portas aos grupos pri­vados, seja com a im­ple­men­tação das USF mo­delo C, seja com a re­a­li­zação de con­sultas no pri­vado.

Há muito que os grupos pri­vados am­bi­ci­onam pôr as mãos nos cui­dados de saúde pri­má­rios, porque por esta via con­se­guem en­ca­mi­nhar do­entes para as suas uni­dades hos­pi­ta­lares, per­mi­tindo-lhes a sua má­xima ren­ta­bi­li­zação. Não é a saúde, nem a sua pro­moção que movem estes grupos, mas sim a do­ença, porque é a do­ença que lhes dá lucro.

Falam de in­cen­tivos, horas ex­tra­or­di­ná­rias, pres­ta­ções de ser­viço, quando o que é ne­ces­sário é a va­lo­ri­zação das car­reiras e de sa­lá­rios e a ga­rantia dos di­reitos dos pro­fis­si­o­nais de saúde e de con­di­ções de tra­balho.

Falam da cri­ação de cen­tros de aten­di­mento clí­nico para as si­tu­a­ções de do­ença aguda mais li­geiras, quando o que é ne­ces­sário é o alar­ga­mento de aten­di­mentos per­ma­nentes nos cen­tros de saúde que per­mitam a aces­si­bi­li­dade em todo o ter­ri­tório.

Falam da con­tra­tação de 100 psi­có­logos, o que é in­su­fi­ci­ente (nem per­mite co­locar um por con­celho), quando o que é ne­ces­sário é con­tratar mais de 2000 psi­có­logos.

Falam da aber­tura de um con­curso com 900 vagas para mé­dicos de fa­mília, mas em an­te­ri­ores con­cursos apenas um terço das vagas foram ocu­padas.

Já sa­bíamos que deste Go­verno não vi­riam as so­lu­ções para res­ponder aos pro­blemas do SNS, dos utentes e dos seus pro­fis­si­o­nais de saúde. O plano anun­ciado mais pa­rece um plano de ne­gó­cios, em que o ca­minho apon­tado pelo Go­verno não é in­vestir e re­forçar a ca­pa­ci­dade do SNS, é ali­mentar os grupos pri­vados.

O Go­verno está apos­tado na su­ces­siva perda de ca­pa­ci­dade de res­posta do SNS. A emer­gência do Go­verno não é salvar o SNS, é fa­vo­recer os grandes in­te­resses nesta área. Desvia re­cursos pú­blicos, que são de todos nós, que de­viam ser mo­bi­li­zados para alargar a res­posta do SNS e va­lo­rizar os seus pro­fis­si­o­nais, que vão para os bolsos de uns poucos. É esta a opção do PSD e do CDS, e que conta com o apoio da IL e do CH.

O que está co­lo­cado neste mo­mento aos utentes, aos pro­fis­si­o­nais de saúde, ao povo é salvar o SNS!

Emer­gência
No pas­sado mês de Abril o Par­tido apre­sentou uma pro­posta de Pro­grama de Emer­gência para o SNS.

Pro­posta que dá pri­o­ri­dade à ga­rantia de con­di­ções de tra­balho dos pro­fis­si­o­nais de saúde, através da re­visão das car­reiras, a par da va­lo­ri­zação das re­mu­ne­ra­ções; da im­ple­men­tação de de­di­cação ex­clu­siva para mé­dicos e en­fer­meiros com a ma­jo­ração em 50% na re­mu­ne­ração base e de 25% na con­tagem de tempo de ser­viço; no re­forço dos in­cen­tivos em zonas ca­ren­ci­adas, in­cluindo um apoio para des­pesas com ha­bi­tação.

Pri­o­ri­dade à me­lhoria do acesso aos cui­dados de saúde e ao alar­ga­mento da ca­pa­ci­dade do SNS, as­se­gu­rando mé­dico e en­fer­meiro de fa­mília para todos os utentes; re­cu­pe­ração das listas de es­pera para con­sultas, ci­rur­gias, exames e tra­ta­mentos; ga­rantia da re­a­li­zação de exames de menor com­ple­xi­dade em todos os cen­tros de saúde; re­a­ber­tura de ex­ten­sões, cen­tros de saúde e ser­viços hos­pi­ta­lares en­cer­rados e o alar­ga­mento do aten­di­mento per­ma­nente nos cen­tros de saúde.

Pri­o­ri­dade ao in­ves­ti­mento na mo­der­ni­zação de equi­pa­mentos de di­ag­nós­tico e te­ra­pêu­tica e das ins­ta­la­ções nos cen­tros de saúde e hos­pi­tais.

É pre­ciso di­vulgar, dar a co­nhecer a nossa pro­posta. A partir dos pro­blemas con­cretos sen­tidos pelas po­pu­la­ções em cada lo­ca­li­dade, o pro­grama pro­posto pelo PCP cons­titui uma base de rei­vin­di­cação e luta na de­fesa do di­reito cons­ti­tu­ci­onal à saúde.



Mais artigos de: Opinião

Até quando?

A verdadeira natureza do partido imperialista da guerra está à vista no massacre cometido pela aliança Israel-EUA, com o apoio indefectível das Von der Leyens desta União Europeia. Os crimes do fascismo sionista em nada ficam a dever aos crimes das outras variantes de fascismo. A barbárie dos últimos dias ultrapassa tudo...

Dever de memória

Perdoe-nos desde já o leitor por ciclicamente voltarmos a este tema, quase sempre nesta altura do ano, mas são tantas as imprecisões, tão descaradas as mentiras e tão despudorada a propaganda que a insistência se impõe. Falamos das comemorações do chamado Dia D, assinalando o desembarque das forças britânicas e...

Mercenários

No sábado foi dia de reflexão. Nas TV’s o dia foi passado a requentar «peças jornalísticas» e «comentários» de promoção do militarismo na União Europeia, anticomunismo e propaganda de guerra relativa ao conflito na Ucrânia. Nesse mesmo dia, na Palestina, na Faixa de Gaza, no campo de refugiados de Nuseirat, decorria uma...

Exércitos

Nas últimas semanas, convencidos de que, com o agigantar do papão de uma suposta, mas mais que certa, invasão eslava que, começando para lá dos Urais, só se deteria no Covão da Ametade (mais pelos esplendores da paisagem e do fresco das águas, do que propriamente por qualquer dificuldade logística inultrapassável), a que...

Brincar, brincar, brincar sempre

Este título é roubado à declaração do Secretário-Geral do PCP, saudando o Dia Mundial da Criança no ano passado. Glosando o «aprender, aprender, aprender sempre» de Lénine, Paulo Raimundo sublinhava que brincar é um dos mais esquecidos direitos das crianças. A 25 de Março, a Assembleia Geral da ONU adoptou uma resolução...