Kanaks rejeitam reforma constitucional imposta pela França na Nova Caledónia
Na Nova Caledónia, «território ultramarino» sob domínio da França, os independentistas rejeitam a reforma constitucional que Paris pretende impor para alargar o recenseamento eleitoral a todos os habitantes com mais de 10 anos de residência no território.
A Frente de Libertação Nacional Kanak e Socialista, que aglutina as forças independentistas do arquipélago, situado na Melanésia, no Oceano Pacífico, a 17 mil quilómetros da França, exige a retirada da alteração legislativa.
Os partidários da independência acusam o governo de Paris de pretender marginalizar os kanaks, povo autóctone que representa mais de 40 por cento dos 270 mil habitantes. A aspiração e exigência dos kanaks é apoiada em França sobretudo por forças de esquerda.
Em protesto contra a iminente aprovação da reforma constitucional, registaram-se desde meados de Maio, na Nova Caledónia, manifestações populares, reprimidas violentamente pela polícia francesa, reforçada por um destacamento militar enviado de urgência por Paris. Embora a violência já tenha diminuído, o balanço inclui pelo menos sete mortos, centenas de feridos, cerca de 300 detidos e enormes prejuízos materiais.
O presidente Emmanuel Macron deslocou-se no dia 23 a Numea, a capital da Nova Caledónia, onde permaneceu 12 horas e prometeu «facilitar o diálogo entre todos os actores». Anunciou o adiamento até finais de Junho da alteração constitucional, cuja entrada em vigor está dependente da validação conjunta por ambas as câmaras do parlamento francês, a Assembleia Nacional e o Senado, que já aprovaram em separado a medida.
A Nova Caledónia, um dos territórios não autónomos elencados pelo Comité Especial de Descolonização das Nações Unidas, realizou nos últimos anos três referendos em que venceram por pequena margem os partidários da continuação da dependência de França. Na mais recente consulta, em 2021, em plena pandemia de COVID-19, votou menos de metade dos eleitores inscritos, devido ao boicote dos independentistas.