Portugueses não estão sozinhos na luta por uma Europa de Paz, Progresso e Cooperação
O lema «Por uma Europa de Paz, Progresso e Cooperação» serviu de mote ao comício internacional que se realizou, no dia 20, em Matosinhos, e que contou com a participação de convidados da Bélgica, Chipre e França e de uma saudação vinda de Espanha. Paulo Raimundo, João Oliveira, primeiro candidato da CDU, e os deputados do PCP no Parlamento Europeu, João Pimenta Lopes e Sandra Pereira, também estiveram presentes.
«Para a Europa de Paz, cooperação e progresso, é mesmo preciso optar pelos trabalhadores»
O grande comício de sábado demonstrou ser um exemplo esclarecedor de solidariedade internacionalista, de que os comunistas portugueses não estão sozinhos na luta por um país e um mundo melhores e, ao mesmo tempo, de que os comunistas portugueses caminham ao lado de muitas outras forças por objectivos comuns.
Do início ao fim do comício, dos vários momentos culturais que marcaram a tarde às diferentes intervenções políticas, surgiram vários pontos de convergência, em particular, o da construção de «uma Europa dos trabalhadores e dos povos, por oposição à União Europeia (UE) do grande capital», como enunciaria mais tarde João Oliveira.
Do estrangeiro, estiveram presentes Bert de Belder, do Partido do Trabalho da Bélgica, Vera Polycarpou, do AKEL, de Chipre, e Cyril Benoit, do Partido Comunista Francês. Estava ainda prevista a participação de Eduard Navarro, do Partido Comunista de Espanha, que, impossibilitado de estar por questões de saúde, enviou uma saudação aos comunistas portugueses.
Entre os vários momentos culturais destacou-se a actuação do coro Mais Abril, composto inteiramente por jovens. Acompanhados por dois músicos, presentearam o auditório com interpretações de conhecidas cantigas de Abril como Maré Alta, de Sérgio Godinho, Os Vampiros, de José Afonso, o Hino de Caxias ou Acordai de Fernando Lopes-Graça.
Ao longo da tarde foram ainda declamados poemas, alguns portugueses e outros dos países de origem dos convidados estrangeiros.
Comunistas portugueses solidários e empenhados
Foi expressando solidariedade com o Chipre e com outros que o Secretário-Geral do PCP escolheu começar a sua intervenção: «como compreenderão e nesta ocasião, gostaria de reafirmar a solidariedade dos comunistas portugueses para com a luta do povo cipriota. Uma luta pela reunificação da sua pátria, contra a ocupação turca que este ano assinala 50 anos».
Dirigindo-se aos convidados internacionais, reafirmou-lhes que «podem contar com o empenho do PCP para dar continuidade à experiência de cooperação de âmbito institucional» que é o Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia / Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL).
«Peço-vos que transmitam aos vossos partidos que o PCP está determinado e confiante na luta em defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo português, na luta por uma Europa de paz, cooperação e progresso, por uma Europa dos trabalhadores e dos povos», acrescentou, apontando ainda os «grandes pontos de contacto» entre os problemas e as lutas dos trabalhadores portugueses e a realidade transmitida pelos convidados.
Estagnação e contenção
De acordo com o Secretário-Geral, desde 1996, Portugal recebeu em termos líquidos 72 mil milhões de euros de fundos comunitários, mas viu sair do País cerca de 126 mil milhões de euros em lucros, dividendos e juros. «Entre o que entra e o que sai, Portugal tem vindo a ser cada vez mais prejudicado», comentou.
O País perdeu soberania monetária, a Política Agrícola Comum paga para que não se produza e obriga o País a comprar no estrangeiro o que antes produzia e «com o euro, o País só conheceu estagnação económica, contenção salarial, menos serviços e investimento públicos».
Voltando a sua atenção para PS, PSD, CDS, Chega e IL, o Secretário-Geral comentou ainda que, a cada dia que passa, «fica mais claro como a política de direita e a integração capitalista europeia são duas faces da mesma moeda» e que o combate a uma destas «não pode ser levado a cabo sem o combate à outra».
Europa que queremos
«Não é difícil definir, em termos gerais, alguns dos contornos dessa Europa por que lutamos», afirmou João Oliveira, o penúltimo a usar da palavra. E foi exactamente isso o que fez: «Uma Europa dos trabalhadores e dos povos, por oposição à UE do grande capital»; mas também «uma Europa de Estados soberanos e iguais em direitos, da democracia e da soberania nacional, por oposição à UE do domínio das grandes potências e das suas imposições supranacionais»; e «uma Europa da convergência no progresso dos níveis de vida, dos direitos sociais e laborais, por oposição à UE do nivelamento por baixo das condições de vida e trabalho».
Uma Europa, continuou, que também é do controlo público e democrático da actividade económica, de verdadeira e genuína coesão económica e social que combata as assimetrias entre países e dentro de cada país, do direito ao desenvolvimento económico e social soberano, da defesa do ambiente, da Natureza, da biodiversidade, do combate às alterações climáticas, pela justiça social, uma Europa da paz e da promoção dos valores democráticos, progressistas e humanistas.
«A realidade em que travamos a batalha por essa Europa de Paz, Progresso e Cooperação é a dura realidade que revela que a UE se afasta cada vez mais destes valores», lamentou. É para contrariar essa tendência que é preciso ter no PE «mais deputados comprometidos com essa Europa, comprometidos com a rejeição e combate a desenvolvimentos negativos e comprometidos com a conquista de avanços, em tudo o que for possível», advertiu. Em Portugal, esses deputados só podem ser os eleitos da CDU.
Vozes unidas
Seguem-se alguns excertos das intervenções que preencheram a tarde de sábado no pavilhão da Escola Secundária João Gonçalves Zarco:
«Hoje em dia, o mundo está a testemunhar uma crise múltipla: da economia, do clima e do meio-ambiente, da política internacional e da democracia, com o surgimento da extrema-direita e com a viragem à direita dos governos burgueses em muitos lugares.»
«Na Europa, os trabalhadores e as suas famílias também sofrem com o aumento da inflação e da pobreza, com salários e pensões demasiado baixas, com a falta de emprego digno, com a erosão de direitos laborais e com leis cada vez mais repressivas.»
Bert De Belder, do Partido do Trabalho da Bélgica
«Estamos hoje mobilizados para levantar as bandeiras de uma Europa de paz, progresso e cooperação. Três palavras que sintetizam os desafios do nosso tempo e as aspirações dos povos para construir um futuro melhor neste continente.»
«No entanto, quão distantes soam estas palavras quando as comparamos com a actual realidade na Europa. Quando em vez de paz, temos guerra. Em vez de progresso, por todos os lados observamos retrocessos sociais e democráticos. Quando em vez de cooperação, impera a competição capitalista que arrasta trabalhadores e nações na procura constante de aumentar lucros.»
Cyril Benoit, do Partido Comunista Francês
«No Chipre e na nossa região, conhecemos bem o significado da paz porque as nossas vidas estão em perigo todos os dias. Celebram-se 50 anos da divisão do Chipre. A Turquia, membro da NATO, ocupa o Chipre há 50 anos. Que diz a UE sobre isso?»
«Não podemos olhar para um futuro sem solidariedade internacional e por isso, hoje, agradeço a todos os camaradas do PCP pela solidariedade que durante todos estes anos oferecem ao Chipre, ao povo cipriota e ao AKEL. Com a vossa solidariedade conquistaremos a nossa independência e soberania.»
Vera Polycarpou, do partido AKEL de Chipre
«A Europa enfrenta um risco de conflito armado generalizado, algo que não acontecia desde a 2.º Guerra Mundial. Isto não é um aviso alarmista, é uma realidade que devemos ter presente para diminuir os riscos de conflito e não para incrementar a tensão, como têm feito as grandes oligarquias europeias. Tomar consciência do perigo e actuar para impedir conflitos é o primeiro passo para evitar que a guerra se volte a espalhar deste velho continente para o resto do planeta.»
«Neste cenário, o PCE reitera o seu compromisso com a paz e uma solução diplomática para os conflitos, repudiando esta perigosa escalada promovida pelo imperialismo norte-americano e apoiado pela UE.»
Saudação de Eduard Navarro, do Partido Comunista de Espanha, lida por Cláudia Santos, da Direcção da Organização Regional do Porto do PCP
«Lá estivemos, sem igual, denunciando as consequências e limitações das políticas da União Europeia, os ataques à soberania e à independência do país, rejeitando os constrangimentos às políticas de desenvolvimento e à própria democracia.»
«Uma abnegada, intensa e diversa intervenção, com uma profunda ligação à realidade e à vida que, como nenhuma outra, está comprometida, com os interesses dos trabalhadores, do povo e do país, apresentando as soluções, apontando o caminho alternativo para essa outra Europa que os povos conquistarão.»
João Pimenta Lopes, deputado do PCP no Parlamento Europeu
«No PE, a intervenção dos deputados do PCP é marcada por uma profunda ligação à realidade, por um amplo contacto com as massas, com os trabalhadores e as populações, em variados contextos, sectores e áreas da vida.»
«É com este conhecimento profundo dos problemas concretos das pessoas que intervimos no PE, dando expressão a reivindicações e aspirações concretas, apresentando propostas também concretas que se traduzem em perguntas à Comissão Europeia e ao Conselho Europeu, em alterações a relatórios, em intervenções em plenário, em declarações de voto que denunciam as políticas que a União Europeia impõem ao país e que os governos PS, PSD e CDS seguem cegamente.»
Sandra Pereira, Deputada do PCP no Parlamento Europeu