Estudantes de todo o País lutam em defesa do Ensino de Abril
Em celebração do Dia Nacional do Estudante, 24 de Março, os estudantes lutaram pelo ensino a que têm direito: dia 21, numa manifestação nacional do Ensino Superior (ES), em Lisboa; e de 18 a 22, numa semana de luta do Ensino Básico e Secundário.
Também no Ensino, «é preciso cumprir Abril e o seu projecto de futuro»
Na praça do Rossio, Lisboa,somavam-se milhares de estudantes de todo o País, mobilizados por associações de estudantes (AE), associações académicas (AA), federações, grupos, núcleos e movimentos, numa mobilizaçãocom uma mensagem clara: «Queremos mais Abril aqui!». Na praça, actuou, num momento cultural, a tuna lisboeta Inoportuna.
Nas faixas que carregavam, podia ler-se as mais diversas reivindicações: «propinas e emolumentos, as razões dos meus lamentos», «os estudantes da Universidade de Évora exigem mais obras nos Leões, mais aquecimento nos pólos e mais acção social escolar» ou «os estudantes da Universidade de Aveiro exigem mais e melhores residências».
Em marcha pelas ruas de Lisboa, a multidão gritava palavras de ordem de problemas que se mantêm actuais, como «propinas e Bolonha, é tudo uma vergonha», «bolsas sim, propinas não» ou «de fundação em fundação, o ensino vai ao chão», e, ainda, «estudantes unidos jamais serão vencidos» ou «a luta continua, os estudantes estão na rua».
Pelo percurso, todos se baixavam, abanando as faixas que traziam, ao surgir nos megafones um prolongado «Dói...», a que se seguia, com saltos de alegria, o desfecho desta palavra de ordem: «Dói, a propina dói, a propina»!
«Abril é futuro»
Nestes 50 anos da Revolução de Abril, muitos usavam t-shirts com a inscrição «Abril é mais futuro», gritando «somos muitos, muitos mil, para continuar Abril», «procuro, procuro, Abril no meu futuro» ou «nós queremos mais Abril aqui».
No Carmo, do Elevador de Santa Justa, um grupo de estudantes desenrolou uma longa faixa onde se podia ler «Abril é futuro», atirando centenas de cravos para a multidão que exclamava «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais».
«Alegria de viver e lutar»
Já concentrados em frente à Assembleia da República (AR), os milhares de manifestantes puderam ouvir um momento musical da Secção de Fados de Coimbra.
Violeta Gregório, presidente da AE da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, que apresentou, destacou aquele «lindo dia de luta», que contou «com a alegria de viver e lutar» dos estudantes. Agradecendo às dezenas de estruturas promotoras da manifestação (cujos representantes subiram ao palco), sublinhou que «quem está à frente da AR, antes de qualquer governo, são os estudantes», e que «não vão ser aceites nem mais retrocessos, nem mais ataques às conquistas de Abril».
Aqui, intervieram: Renato Daniel, da AA de Coimbra (AAC), que destacou a unidade do movimento associativo estudantil; Sofia Medeiros, da AE da Faculdade de Belas Artes de Lisboa (AEFBAUL), que valorizou a luta dos estudantes do ensino artístico; Wilson Carmo, da AA da Universidade de Aveiro (AAUAV), que lembrou as novas faculdades que Abril trouxe ao País; Rodrigo Rio, da AE da Faculdade de Arquitectura do Porto (AEFAUP), que recordou a luta por mais alojamento; Francisco Azevedo, da AA da Faculdade de Direito de Lisboa (AAFDL), que afirmou o ES como espaço de igualdade de oportunidades; Leonardo Pedrosa, da Federação Académica de Lisboa (FAL), que realçou a luta em defesa da saúde mental; e Marta Boavida, da AE da Faculdade de Letras de Lisboa (AEFLUL), que vincou a necessidade de um regime jurídico das instituições de ES, mais democrático.
«Força que não fica à espera»
Na intervenção de encerramento, Guilherme Vaz, presidente da AE da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, valorizou a «grande demonstração de força e unidade» da manifestação, lembrando que «é aqui», nas ruas, «que cumprimos e defendemos Abril» e «que vamos atingir um ES mais justo».
E recordou que «nós, estudantes, somos uma força que não fica à espera», e que «é a experiência concreta de cada um de nós, são os problemas que enfrentamos no nosso dia-a-dia, que, em unidade, constroem momentos como este», de luta.
«O mote que nos traz cá», afirmou, «coloca em evidência os principais problemas que enfrentamos»: a propina, taxas e emolumentos; as bolsas insuficientes e o moroso processo para a sua obtenção; a falta de camas em residências públicas; e a sub-representação dos estudantes nos órgãos de gestão das instituições de ES.
«Faz falta Abril no ES», sublinhou, destacando que «é preciso cumprir Abril e o seu projecto de futuro», contra as políticas de sucessivos governos, que «têm levado o ES ao caminho que vamos conhecendo, de elitização, privatização, degradação e inacessibilidade».
«Esfregam as mãos e até pensam “agora é que é”, “agora é que o ES vira de vez um negócio», lembrou. «Pois eles que tentem, que se atrevam! Cá estamos e estaremos», retorquiu, para fazer «o combate às forças que querem fazer a roda da história andar para trás», pois é «em luta que se combatem as direitas».
E, afirmando que «Abril não é passado», recordou os versos de Ary dos Santos: «as portas que Abril abriu, de facto, ninguém mais cerra», esse Abril que faz os estudantes lutar «por um ES público, gratuito, democrático e de qualidade».
Luta em unidade
O apelo para um dia nacional de luta, lançado no dia 4, fez convergir dezenas de organizações do movimento associativo estudantil, que se somaram à luta no dia 21 (além das que intervieram no palco): as AE da Escola de Artes da Universidade Católica Portuguesa, da Escola Superior de Teatro e Cinema, do Instituto Superior de Psicologia e da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto; as AA das Universidades do Algarve, Aveiro, Beira Interior, Évora, Lisboa, Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Madeira e Lusófona; e diversos outros núcleos e grupos de estudantes.
Solidariedade dos comunistas
O PCP e a JCP solidarizaram-se com a luta dos estudantes do ES. No percurso, saudando os estudantes, estiveram João Oliveira, primeiro candidato da CDU ao Parlamento Europeu e membro da Comissão Política do Comité Central (CC) do PCP, Afonso Beirão, do Secretariado da Direcção Nacional da JCP, e Cátia Lapeiro, do CC. Já em frente à AR, esteve Paula Santos, da Comissão Política do CC e presidente do Grupo Parlamentar do PCP.
Por seu lado, a JCP, através de Gonçalo Lopes, do Secretariado da Direcção Central do ES da JCP, destacou a força dos milhares de estudantes «numa acção convocada por diversas estruturas do movimento associativo», e reforçou que os estudantes podem contar com os comunistas «na defesa do Ensino Superior de Abril».
«Agarra o que é teu!»
De 18 a 22 de Março, e na sequência de um apelo lançado pelo Movimento Voz aos Estudantes (subscrito por 17 AE), as formas de luta dos estudantes do Ensino Básico e Secundário em defesa da Escola de Abril foram variadas: de concentrações a momentos culturais, de foto-protestos a vídeos.
São exemplos as concentrações na Escola Secundária (ES) Anselmo de Andrade (Almada) e José Gomes Ferreira (Lisboa), bem como um concerto reivindicativo na ES José Afonso (Loures), numa clara demonstração de criatividade na concepção dos momentos de luta.
Também na ES da Lousada (Porto), os estudantes, além de uma concentração, fizeram um vídeo para as redes sociais onde denunciaram diversos problemas, desde chover dentro da escola à falta de condições nas casas de banho.
Em muitas destas e outras escolas, a luta dos estudantes foi alvo de atitudes antidemocráticas por parte das respectivas direcções, com a identificação e represália dos envolvidos nestas acções.
Esta semana surge na sequência do abaixo-assinado «Agarra o que é teu!», promovido pelo Movimento Voz aos Estudantes, em defesa da escola pública, do fim dos exames nacionais, contra a sobrecarga horária e por mais funcionários, professores, condições materiais e transportes públicos. Este documento já recolheu mais de seis mil assinaturas de estudantes, com centenas de folhas a circular por escolas de norte a sul do País.
O Movimento Voz aos Estudantes, que teve início com um grupo de alunos descontentes com os problemas generalizados do Ensino Básico e Secundário, tem como pilares melhoria das condições materiais das escolas e a defesa do direito de constituir e eleger AE, de realizar reuniões gerais de alunos sem represálias e de uma gestão democrática nas escolas por órgãos de gestão colegiais com a participação dos estudantes.