A coragem de sempre
«Professora comunista atirada de avião». A primeira página do Correio da Manhã chamava assim a atenção, esta terça-feira, para a publicação da última obra do Papa Francisco.
Nas páginas interiores, afirma-se que Francisco, na altura ainda padre na sua Argentina natal, teria tentado, sem sucesso, salvar Esther Palestrino, professora de bioquímica, e uma das principais dinamizadores do Movimento «Mães de Praça de Maio» e que é apresentada no livro que agora deu à estampa como uma «verdadeira comunista».
Segundo a notícia, Jorge Bergoglio teria, nesses anos negros da ditadura argentina, escondido os livros de Esther para evitar um destino semelhante ao de dezenas de milhares de argentinos que pereceram às patas do sanguinário regime.
«Esther foi levada, torturada, e atirada de um avião para o mar. O corpo deu à costa em 1977», prossegue o matutino.
Independentemente dos reais objectivos da edição do livro, que não pretendemos aqui tratar, há um elemento nesta notícia que tem de ser sublinhado e que tem fundas ligações com os tempos que estamos a viver.
Esther era mulher, mãe, professora, mas era também comunista. Lá, na Argentina, como cá, na ditadura fascista de Salazar e Caetano, ou em qualquer parte do mundo, perante a galeria de horrores que o capitalismo, nas suas mais diversas facetas, impôs à humanidade, perante os ataques às liberdades, as limitações a direitos, a repressão, a perseguição, a perspectiva da prisão, da tortura ou mesmo da morte, foram sempre os comunistas os primeiros a levantar-se, nunca recusaram dar o peito às balas, não hesitaram em entregar a sua própria vida pela democracia, pela liberdade e pela paz.
Nos 50 anos do 25 de Abril lembramo-nos das palavras do resistente antifascista que sublinhava que, na PIDE, a primeira pergunta que faziam era se se era membro do PCP. Não se se era social-democrata, democrata-cristão ou liberal. O que queriam saber era se se era militante do Partido e que outros militantes conhecia!
Hoje, de novo, enquanto nos preparamos cá para a intensificação da política de direita, vemos a Argentina transformada num balão de ensaio de escabrosas experiências políticas e sociais.
Lá, como cá, de novo, podem os seus executores contar com a coragem de sempre dos comunistas para lhes fazer frente!