O novo
Não nos intimidemos por regressar ao básico, ao bê-à-bá, pois é mesmo isso que faz falta. O grande vencedor das últimas eleições foi o capital, o grande capital.
E é o grande vencedor porquê? Em primeiro lugar e essencialmente porque fragilizou quem lhe faz frente: o PCP. As últimas duas eleições retiraram aos trabalhadores um conjunto de instrumentos para estes resistirem à exploração e lutarem por um outro mundo. Reflectem inegáveis avanços ideológicos das classes dominantes, da sua capacidade de manipular e iludir as massas.
Mas ganhou por outra importante razão: porque apesar do número de deputados que se submetem aos interesses do capital ser basicamente o mesmo do das últimas eleições, não é a mesma coisa – para a forma e a velocidade de implementação da política ao serviço do capital – que esses deputados tenham sido eleitos dizendo que eram de esquerda ou dizendo que eram de direita ou extrema-direita. Uma das artes da política de direita é conseguir ser a alternativa a si própria. O programa do capital será o mesmo que o que estava a ser concretizado pelo governo do PS: destruir serviços públicos, reduzir impostos aos ricos, privatizar a economia. Mercantilizar e liberalizar, enquanto se mantém o país ajoelhado aos pés do imperialismo. Só que sem pelos!
Esteve muito bem o PCP ao colocar-se no plano da oposição total e frontal aos projectos do capital. E não apenas na Assembleia de República com a moção de rejeição. Em todos os planos da luta – política, económica, social, ideológica – que permanentemente opõe os interesses antagónicos, irreconciliáveis, de proletariado e burguesia.
Os comentadeiros não perceberam. Claro. Estão presos nas velhas rotinas, onde vale tudo para ganhar votos, para poder escolher o CEO, e depois sermos todos irmãos na grande casa da democracia, todos ao serviço do capital e a ser por este recompensados. Eles nunca perceberão que nós sabemos que da luta surgirá «a força capaz de varrer o velho e criar o novo». O novo!