Histórias imorais

Anabela Fino

Um relatório do Painel de Especialistas sobre a Líbia do Conselho de Segurança da ONU, de Março de 2021, revelado pelas revistas Star e New Scientist, deu conta do advento dos drones tipo Terminator. «No ano passado, um drone autónomo armado perseguiu e atacou um alvo humano» de forma independente, referia o documento, sugerindo que o ataque foi efectudo pelo drone turco Kargu-2 equipado com IA, que terá «caçado e combatido» os «inimigos» sem receber ordens de operadores humanos.

Dez anos depois de os EUA e a NATO terem transformado o país mais rico de África num «Estado falido» e assassinado o seu presidente, Muammar Kadhafi, a Líbia, alvo de cerca de mil ataques aéreos com drones, é um laboratório privilegiado da indústria armamentista. Os resultados aí estão: explorado pelos interesses imperialistas, o país viu o seu nível de pobreza aumentar 40% em 2023 e assiste impotente ao regresso da escravatura.

Deslumbrados pela nova «maravilha» tecnológica e pouco ou nada preocupados com as eventuais falhas de identificação dos «inimigos» pelos robôs assassinos, os poderes instalados logo sonharam com as guerras do futuro. Não foi preciso esperar muito, ou não fosse a guerra o petisco mais suculento do capital.

Enquanto continua por responder a questão «com que frequência [o drone] identifica erroneamente os alvos?», eis que as novas armas estão em acção em Gaza, onde segundo o jornal israelita Haaretz, «num esforço para evitar ferir soldados e cães», as IDF «têm feito experiências com cães-robôs montados em drones». O artigo revela que as armas estão a ser testadas e que «oficiais do sistema de defesa confirmam que houve um salto no uso e sofisticação de robôs no campo de batalha». Salve-se os cães, mate-se os palestinianos. Até comove.




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