Bloqueio dos EUA contra Cuba é contrário ao direito internacional

O blo­queio eco­nó­mico, fi­nan­ceiro e co­mer­cial im­posto pelos EUA contra Cuba não tem fun­da­mento ju­rí­dico, sendo um ins­tru­mento de pu­nição po­lí­tica que viola o di­reito in­ter­na­ci­onal. O seu le­van­ta­mento é exi­gido anu­al­mente pela es­ma­ga­dora mai­oria dos Es­tados do mundo.

O blo­queio dos EUA contra Cuba é um ins­tru­mento po­lí­tico mal ca­mu­flado de ju­rí­dico

A As­so­ci­ação Por­tu­guesa de Ju­ristas De­mo­cratas e o Ins­ti­tuto de In­ves­ti­gação In­ter­dis­ci­plinar de Di­reito – Iuris pro­mo­veram uma sessão pú­blica, no dia 21, sobre a sen­tença pro­fe­rida pelo Tri­bunal In­ter­na­ci­onal sobre as san­ções dos EUA contra Cuba, que fun­ci­onou em 2023 nas ins­ta­la­ções do Par­la­mento Eu­ropeu – e que con­cluiu pela ile­ga­li­dade do blo­queio eco­nó­mico, co­mer­cial e fi­nan­ceiro im­posto há mais de seis dé­cadas pelos EUA contra o pe­queno país ca­ri­benho.

A sessão, essa, re­a­lizou-se na Fa­cul­dade de Di­reito da Uni­ver­si­dade de Lisboa (FDUL), que – se­gundo o seu di­rector, Edu­ardo Vera Cruz Pinto, que saudou os pre­sentes – «não cen­sura países nem opi­niões». É, sim, um local onde o con­tra­di­tório terá sempre lugar.

O pri­meiro a in­tervir foi Pedro Freitas, pro­fessor de His­tória das Re­la­ções In­ter­na­ci­o­nais na FDUL e pre­si­dente do Iuris, para quem o blo­queio não só está «fora do âm­bito do Di­reito In­ter­na­ci­onal» como viola di­versos prin­cí­pios fun­da­men­tais, como os da so­be­rania, da in­de­pen­dência e da não in­ge­rência. O seu ca­rácter ex­tra­ter­ri­to­rial é, também ele, ilegal. Para este es­pe­ci­a­lista, «es­tamos pe­rante uma vi­o­lação do di­reito in­ter­na­ci­onal», numa questão cla­ra­mente po­lí­tica (mal) ca­mu­flada de ju­rí­dica.

Ri­cardo Avelãs Nunes, que in­te­grou o co­lec­tivo de juízes do tri­bunal in­ter­na­ci­onal, par­ti­lhou al­guns as­pectos que mais o mar­caram em todo o pro­cesso, no­me­a­da­mente a aná­lise da prova, que foi «muito emo­ci­onal»: cri­anças a ne­ces­sitar de pró­teses não as têm porque os EUA não per­mitem que a única em­presa que as fa­brica, alemã, faça ne­gó­cios com Cuba; faltam me­di­ca­mentos, ali­mentos, com­bus­tível e peças para má­quinas porque o blo­queio im­pede a sua en­trada; os pró­prios con­tactos com Cuba eram di­fi­cul­tados porque as mais uti­li­zadas pla­ta­formas de con­ver­sação re­mota não podem ser uti­li­zadas pelo país ca­ri­benho de­vido às im­po­si­ções dos EUA.

Am­bi­ções, re­sis­tência e par­ti­ci­pação
Mo­de­rada por Ma­da­lena Santos, pro­fes­sora na­quela fa­cul­dade e pre­si­dente da As­so­ci­ação Por­tu­guesa dos Ju­ristas De­mo­cratas, a sessão contou ainda com duas ou­tras con­tri­bui­ções: de Edu­ardo Fon­seca, vice-pre­si­dente da As­so­ci­ação de Ami­zade Por­tugal-Cuba (AAPC), e de Zelmys Do­min­guez Cor­tina, em­bai­xa­dora de Cuba em Por­tugal. Menos cen­tradas no Di­reito, não dei­xaram por isso de re­velar o ca­rácter ilegal – e de­su­mano – do blo­queio.

O ac­ti­vista por­tu­guês lem­brou a cam­panha re­a­li­zada pela AAPC vi­sando a aqui­sição de se­ringas para Cuba, es­cassas no país de­vido ao blo­queio. Em plena pan­demia de COVID-19, Cuba foi capaz de de­sen­volver cinco va­cinas di­fe­rentes, mas não tinha se­ringas su­fi­ci­entes para as ad­mi­nis­trar. A pró­pria en­trega do ma­te­rial an­ga­riado acabou por ser um pro­cesso mo­roso e com­plexo, cheio de obs­tá­culos, im­postos pela ex­tra­ter­ri­to­ri­a­li­dade do blo­queio.

A di­plo­mata cu­bana, após lem­brar que o blo­queio travou a en­trada em Cuba de ven­ti­la­dores res­pi­ra­tó­rios no pe­ríodo pan­dé­mico, in­seriu todo este quadro san­ci­o­na­tório na his­tó­rica am­bição ne­o­co­lo­nial dos EUA face a Cuba, ma­ni­fes­tada desde o sé­culo XIX e que so­freu um rude golpe com a re­vo­lução de 1959. Se os EUA se re­cusam a dis­cutir com Cuba as re­la­ções mú­tuas é porque sabem que esse seria um de­bate «entre dois países iguais e não entre amo e es­cravo».

De­nun­ci­ando as inú­meras ten­ta­tivas das su­ces­sivas ad­mi­nis­tra­ções norte-ame­ri­canas para der­rubar o so­ci­a­lismo em Cuba, Zelmys Do­min­guez ex­plicou as ra­zões do seu fra­casso: em Cuba, ga­rantiu, as de­ci­sões po­lí­ticas são am­pla­mente de­ba­tidas pelo povo. A Cons­ti­tuição da Re­pú­blica de Cuba, re­fe­ren­dada em 2019, foi apro­vada com sig­ni­fi­ca­tivas al­te­ra­ções de­cor­rentes do pro­cesso de aus­cul­tação e de­bate.

 



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