Só uma paz justa será duradoura

Na Palestina, no Médio Oriente ou em qualquer parte do mundo, só é possível uma paz duradoura se for baseada na justiça e nos direitos dos povos, concordaram os participantes num debate promovido em Lisboa, no dia 8, por CPPC e MPPM.

As resoluções da ONU definem o que será o Estado da Palestina

Naquela que foi a 48.ª iniciativa promovida nos últimos 125 dias por aquelas duas organizações, em muitas delas também com CGTP-IN e o Projecto Ruído (uma extraordinária média de uma a cada dois dias e meio), privilegiou-se o esclarecimento – e tão importante ele é em tempos de aguda ofensiva ideológica que apresenta os agressores como vítimas, o massacre como «defesa» e a resistência como terrorismo. A defesa da paz e dos direitos do povo palestiniano também se faz, e de que maneira, no plano das ideias.

Apesar da forte chuva que caiu durante toda a tarde, as dezenas de pessoas que encheram o salão da Casa do Alentejo escutaram com atenção as intervenções dos oradores: a embaixadora da República da África do Sul, Mmamokwena Gaoretelelwe; o embaixador da Palestina, Nabil Abuznaid; o jornalista José Goulão; e os vice-presidentes do MPPM e do CPPC, Carlos Almeida e Rui Garcia, que moderou o debate.

A diplomata sul-africana lembrou as posições sempre assumidas pelo seu país, desde a libertação do apartheid, sobre a questão palestiniana, desde logo a defesa do fim da ocupação e da segregação e da criação de um Estado próprio, soberano, independente e viável, «vivendo em paz ao lado de Israel». Um Estado, acrescentou, construído nas fronteiras anteriores a Junho de 1967 com Jerusalém Leste como capital.

A instauração do processo contra Israel, por genocídio, no Tribunal Internacional de Justiça é, assim, coerente com os princípios da África do Sul, lembrou, evocando Nelson Mandela, que afirmou um dia que «a liberdade dos sul-africanos nunca estará completa sem a liberdade dos palestinianos».

O embaixador da Palestina em Portugal começou por agradecer as múltiplas acções de solidariedade realizadas no País, garantindo que elas enviam uma «forte mensagem» ao Governo, à Assembleia da República, à União Europeia e ao mundo. Assim se explica, em sua opinião, a necessidade que muitos governos tiveram de vir agora afirmar o seu apego à solução dos dois Estados. A questão, acrescenta, é que Estado da Palestina, com que fronteiras e com que viabilidade?

Denunciando a extrema violência de Israel, sobretudo na Faixa de Gaza (que, garante, «já não existe»), mas também na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, Nabil Abuznaid acusou os EUA de apoiarem a ocupação e o massacre.

Crimes deliberados
A seguir interveio o jornalista José Goulão, que traçou uma fronteira clara entre o judaísmo e o sionismo: o primeiro remete para um quadro cultural e religioso e o segundo para uma doutrina racista, supremacista e fascista. E é precisamente o sionismo a «doutrina oficial» do Estado de Israel desde a sua fundação, denunciou, lembrando que o desprezo e desumanização dos palestinianos – «animais humanos», «animais de duas pernas» e outras concepções semelhantes – não são exclusivos dos membros do actual governo de extrema-direita. José Goulão recordou ainda que o Grande Israel proposto pelo sionismo não se fica pelos territórios da Palestina – estende-se do Nilo ao Eufrates – e sublinhou que a continuação da colonização põe seriamente em causa a possibilidade de concretização da solução de dois Estados.

Depois de fazer o ponto de situação de 125 dias de agressão (ver caixa), Carlos Almeida demonstrou que o objectivo de Israel é apoderar-se da Faixa de Gaza, sem palestinianos. A destruição deliberadada de bairros, hospitais, escolas, abrigos, colunas de refugiados, as declarações dos dirigentes políticos e militares israelitas, o bloqueio à entrada de alimentos e medicamentos e a proposta de expulsar os palestinianos para o Sinai comprovam-no. «Querem limpar Gaza», denunciou.

O dirigente do MPPM reafirmou o direito à resistência – internacionalmente consagrado –, criticou o Governo português por não ter ainda reconhecido o Estado da Palestina (apesar de uma resolução da Assembleia da República, de 2014, o recomendar) e sublinhou o direito soberano e inalienável do povo palestiniano a escolher os seus representantes e decidir os objectivos e meios da sua luta de resistência.

Pôr fim à ocupação
A abrir, já Rui Garcia tinha colocado a questão central, com a qual todos concordaram: a paz na Palestina e no Médio Oriente está intimamente ligada com a garantia dos direitos do povo palestiniano. E o futuro Estado, de que hoje tanto se fala, está consagrado nas resoluções da ONU: nas fronteiras anteriores a Junho de 1967, com Jerusalém Leste como capital e garantindo o direito ao regresso dos refugiados. O que implica uma desocupação de Israel, com o desmantelamento dos colonatos e dos postos de controlo e o levantamento do bloqueio à Faixa de Gaza. Só assim haverá paz, uma paz justa e duradoura.

No final, ao som de vivas à Palestina, foram entregues ao embaixador da Palestina as dezenas de postais recolhidos uma semana antes, na Baixa de Lisboa, com mensagens de apoio, estímulo e solidariedade ao povo palestiniano e à sua resistência.

 

Em 125 dias…

• 28 mil mortos (200 por dia, em média)
• 154 funcionários da ONU, 339 profissionais de saúde e 123 jornalistas mortos
• 67 mil feridos
• 8 mil desaparecidos
• 1,8 milhões de refugiados
• 87% da população deslocada

 



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