Argentinos rejeitam políticas do governo
Prosseguem na Argentina manifestações e outras acções contra as medidas ultraliberais impostas ou anunciadas pelo governo de extrema-direita do presidente Javier Milei.
Retirado auxílio a 30 mil cozinhas populares em bairros humildes
Milhares de pessoas manifestaram-se na semana passada, em Avellaneda, na província de Buenos Aires, perante forte dispositivo policial, e noutras cidades argentinas, como Mar del Prata, para exigir a continuação do apoio governamental às cozinhas populares.
Os protestos integram uma jornada nacional de luta, promovida por diversas organizações – partidos políticos, sindicatos, movimentos de mulheres e de indígenas –, para denunciar a falta de ajuda a essas instituições comunitárias.
Os manifestantes exigem a continuação da entrega pelo Estado de alimentos às cozinhas populares e alertam para os riscos do encerramento dos milhares dos «comedores» localizados em bairros humildes para auxiliar os sectores mais vulneráveis. «São 30 mil as cozinhas populares que estão a fechar, uma a uma, desde que o governo decidiu descontinuar a entrega de alimentos que o Estado promovia para enfrentar a grave situação social, agora agravada pela pulverização dos salários e pensões», declarou à imprensa um dos dinamizadores dos protestos. Acrescentou que dentro de dias haverá novas acções, realçando que não podem ser os que menos têm a pagar os «ajustes» nas despesas públicas.
Organizações sociais anunciaram, entretanto, que, a par de um plano nacional de luta contra as medidas do governo, vão ser apresentadas acções judiciais contra Milei «por instigação à violência política, ameaças de morte, prejuízos morais e outros delitos». De facto, o chefe do Estado publicou nas redes sociais ameaças de morte contra sindicalistas e dirigentes políticos, incluindo líderes partidários, deputados e governadores da oposição.
Recuo inédito
No dia em que chegou a Israel para apoiar os ataques do Governo de Benjamin Netanyahu contra a população palestiniana, Javier Milei sofreu no dia 6 a sua primeira derrota parlamentar, com a rejeição na Câmara dos Deputados dos principais artigos da Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, conhecida como «Lei Ônibus» (um pacote de mais de 300 medidas de recorte ultraliberal), em particular os que se referiam à reforma do Estado.
Antes que os artigos que dizem respeito às privatizações sofressem idêntico destino, o líder do partido do governo na Câmara dos Deputados, Oscar Zago, pediu o retorno da «Lei Ônibus» às comissões, uma espécie de estaca zero do processo legislativo, pois significa, inclusivamente, a anulação da sua votação na generalidade. É a primeira vez na história da Argentina que o primeiro projecto de um executivo é rejeitado pelo próprio partido que suporta o governo, depois de aprovado na generalidade.
A partir de Israel, Milei sentiu a derrota e atacou os parlamentares que votaram contra o projecto classificando-os de «delinquentes».
Numa carta dirigida ao presidente, a Associação dos Trabalhadores do Estado, da província de Buenos Aires, denuncia que «a Argentina sofre índices altíssimos de inflação, o aumento do custo do transporte, uma queda brutal dos salários, a falta de entrega de alimentos às cozinhas comunitárias», resultado já de medidas e políticas impulsionadas por Milei, a quem acusam de «desprezo pelo Estado de direito, a liberdade sindical, a democracia, o direito constitucional ao protesto, o federalismo e a autonomia provincial».