Indignações selectivas

João Frazão

Ficámos preocupados com os jornalistas da CNN que, primeiro em suposto programa de verificação de factos e, depois, em entrevista tardia na CNN (tão tardia que uma boa parte dos espectadores que a aguardavam pode ter mesmo desistido), se indignaram boçalmente com a proposta do PCP do aumento dos salários em 15%, com um valor mínimo de 150 euros por cada trabalhador.

«Loucura», gritam uns, que isso custa muito dinheiro, atirando para o ar muitos milhares de milhões de euros! «Insano», afirmam outros, que as empresas não aguentam uma tal medida!

Ora nós ficamos mesmo preocupados com esta gente quando vemos a banca a anunciar os seu lucros e, como diria o vendedor de feira, não são aumentos de 15%, nem de 20%, nem de 30%. São aumentos de 35% (no caso do Novo Banco) ou de 42% (no que toca ao BPI), ou mesmo de, adivinhem lá..., de 57%, sim, cinquenta e sete por cento (para o Santander).

Tais jornalistas, se ainda não lhes deu uma apoplexia, estarão certamente a preparar as peças para sair em todos os noticiários.

«Mas as pequenas e médias empresas aguentam o aumento nos custos dos seus créditos e as comissões que a banca cobra, para somar assim tais proventos?»

«Será que as famílias aguentam o aumento das taxas de juro à habitação, que amassam estes lucros?»

«Aguentará a economia portuguesa este fartar vilanagem de ganâncias para distribuir por uns poucos, muito poucos?»

Perguntas que, essas sim, têm de ser feitas por quem sabe que os salários representam apenas 14%, em média, nos custos das empresas, pelo que esse aumento teria pouco peso, por quem não ignora que essa medida teria um forte impacto no aumento do consumo interno e, logo, no crescimento de economia, por quem não desconhece que a grande parte dessas avultadas somas, ao contrário dos salários de quem trabalha, não ficam em Portugal, antes são distribuídos por fundos sem rosto por esse mundo fora.

Se, ao invés disso, decidem agitar papões, visam apenas justificar o modelo de baixos salários, aliás cada vez mais baixos face à média europeia, que condenou o País às dificuldades em que se encontra.

O resto é só, e apenas, o anticomunismo a falar.



Mais artigos de: Opinião

Cumprir Abril na vida das mulheres Dias especiais de luta

1. O Dia Internacional da Mulher foi proposto por Clara Zetkin em 1910, na II Conferência Internacional de Mulheres, em Copenhaga. Uma data que se assinala a 8 de Março e que se transformou num símbolo de luta das mulheres contra todas as formas de exploração e opressão, pela sua emancipação e...

Histeria de guerra

Ao invés de abrir um caminho de negociação visando alcançar uma solução política para o conflito que travam na Ucrânia com a Rússia, os EUA, a NATO e a UE insistem na sua política de instigação e prolongamento de uma guerra que, recorde-se, foi iniciada com o golpe de Estado que promoveram na Ucrânia em 2014 e que...

A razão e a lata

A AD tem razão! Nos cartazes que tem afixados pelo País, a coligação PSD-CDS-PPM garante que «já não dá para continuar», tão grave é a situação que quem cá vive e trabalha enfrenta no seu dia-a-dia. Sob este mote geral, a AD adianta razões de queixa mais concretas. A falta de médicos de família, por exemplo, que...

Voracidade monopolista

O capital monopolista é de uma sofreguidão insaciável, intrínseca à sua natureza. O seu desígnio não é produzir beringelas ou Teslas, mas realizar mais-valias, concentrar e centralizar capitais. A financeirização do capital, sob anonimato, transformou os monopólios da indústria, serviços e média em filões de lucro...

Se pedem, é atender o pedido

Há coisas insólitas que nem há como classificar, nem que significado têm, admitindo que têm algum. Sabemos como os ricos tratam de apoiar e promover politicamente quem lhes garanta privilégios e evasão fiscal. Mas através da Oxfam ficamos a saber de uma organização chamada Patriotic Millionaires (Milionários...